Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

28.6.06

Das coisas que me trazem de volta ao café

Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, os números não significavam praticamente nada mas eu continuei pingando aspartame dentro da caneca de café até chegar no número doze, embora esteja escrito no rótulo que umas seis gotas já está de bom tamanho. De vez em quando me pego fazendo algumas coisas por impulso, como se fossem mecânicas e eu as fizesse sempre. É como tomar banho, às vezes até esqueço se já tomei ou não. Assumo que antigamente eu conseguia me convencer de que sempre já havia tomado banho e que dois no mesmo dia seria um puta exagero, mesmo sem ter chegado perto do chuveiro.

Mexi o café com o cabo da faca (as colheres tinham se perdido dentro da pia) e taquei tudo pra dentro com dois comprimidos de um trequinho colorido pra dor de cabeça e gripe. Eu não tenho costume de tomar café antes de sair pra beber, porque dá vontade de chegar no bar e perguntar "tem café?" e ficar tomando a noite toda, mesmo sabendo que não vai alterar meu estado de lucidez. E tomar café com um bando de gente enchendo a cara à procura de diversão também não é algo que pega bem, ainda mais se me taxam de "o cara que não fica bêbado antes de três cervejas", um pouco diferente daquela turma toda.

O combinado era encontrar todos num barzinho perto do metrô, lá por volta das dez horas, e só depois irmos pro lugar da festa. Ficaram buzinando na minha orelha a semana inteira "você tem que ir, você tem que ir!" e mesmo assim eu acabei esquecendo. Daí me ligam "pourra, você não vêm?" e eu já estava com a caneca de café nas mãos, sentado de frente pra mesa e com as pernas esticadas em cima de outra cadeira, pronto pra pensar "ah, finalmente...", mas mal tive tempo de calçar as meias de dormir. Disse que estava parado num bar perto de casa, conversando com uma amiga que não via há muito tempo. "chego aí em vinte minutos, não se preocupem."

Cacete, duas coisas que odeio: estudante e ter pressa. E se estiverem me incomodando ao mesmo tempo, aí fodeu. Me ataca o estômago, o cabelo fica branco e começa a cair, dói o dente, dá vontade de dar uma pedrada naquelas janelas gigantescas de vidro e só assim pôr pra fora a raiva. Tentei ter calma (mais uma vez), afinal de contas eu precisava sair de casa, já estava cheirando a mofo. E não seria tão ruim assim ver umas mulheres bonitas, que por mais que me achem um aguado sem vergonha, elas dão um belo de um caldo.


Desliguei o telefone e enfiei as calças como se estivesse descendo pra comprar cigarros no boteco do português. Não sei por quê, mas parece que consigo prever quando vou me divertir ou quando vou me frustrar com uma porcaria de uma noite mal aproveitada, só que diferente de antes, agora eu pago pra ver. E mesmo achando que aquela noite tinha tudo pra ser um fracasso, resolvi encarar como "o otimista". Passei até perfume (vai saber, às vezes pode pintar alguma coisa com as mulheres que me odeiam) um pouco antes de sair e também joguei um negócio estranho no cabelo, pra que ele ficasse parado no mesmo lugar. Fazia um frio medonho, e por mais que eu quisesse pensar positivo, sabia que o lance iria micar.

Comecei a juntar minhas coisas (chaves, documento, grana...) e quando abri a gaveta pra pegar os cigarros, achei uma cartinha que estava ali há mais ou menos um ano e eu sabia muito bem o que estava escrito e que se eu a lesse não colocaria os pés na rua de maneira alguma. É aquela hora que você pensa "puta merda, por que agora?" e até esquece que tinha um compromisso.

25.6.06

A bike que não era minha (e os arrotos)

As bicicletas em casa sempre passaram de irmão pra irmão, mas me lembro bem que só uma vez ganhei uma que seria só minha e mesmo assim não dei muita bola. Era meio que uma ordem natural dos fatos: meu irmão mais velho tinha uma cross toda ajeitada, que a galera da rua crescia os olhos nela toda vez que a gente saía pra pedalar. Daí um dia ele enjoou da cross e a febre das mountain bikes já não tinha mais como ser freada. Era como aquela propaganda da tesourinha do mickey que tiraram do ar porque dizia "eu teeenho, você não têêêm!" Ele teve que ganhar uma fudida, daquelas com dezoito marchas e olhos de gato e tal. E a cross andou na fila, ficando pra mim. Meu irmão mais novo ainda não conseguia andar com as bikes sem rodinha, então por isso ainda não fazia parte do esquema, mas mesmo assim já sabia que tinha uma azulzinha, que tinha sido minha, esperando por ele.

Só que a cross pra mim era como chiclete mascado, eu não podia ficar pegando sobra pro resto da vida (eu sei, eu não era nada modesto com nove ou dez anos). E às vezes eu pegava a mountain bike que mal dava pé pra mim e saía escondido pra pedalar no descidão asfaltado que tinha perto de casa. Eu me sentia o máximo, mesmo sabendo que todos sabiam que aquela bike não era minha, tipo "lá vêm o pirralho com a bike do irmão."

Tinha uma rua que eu descia no caminho da casa do meu avô para a minha casa, e sempre que eu passava na frente de uma casa com varanda, três irmãs ficavam debruçadas curtindo o domingo. Lembro até que uma delas estudava com meu irmão mais velho, e as outras eram ainda mais velhas que ela. Ela sabia meu nome, e por isso parei uma vez que "mexeu" comigo.

Eu era todo tímido (como ainda sou...) mas não tinha vergonha de nada. Os primeiros papos sempre eram sobre a bike. "É, é minha sim" - mas elas sabiam que um cara daquele tamanho nunca teria uma bike tão grande. Eu ficava me gabando, como se fosse o gostosão do quarteirão, que tinha as três irmãs na conversa só por causa de uma bike bacana. Às vezes eu fingia que encontrava elas por coincidência, porque corria até a esquina delas e dava uma espiada. Se elas não estavam lá, eu dava meia-volta e caía fora. Mas se elas estavam, eu pegava a bike e dava uma baita volta de quarteirão (com subidão e tudo) só pra passar na frente da casa delas e "ah, oi! vocês estão aí?" Bem cara-de-pau.

Lembro que tinha uma outra coisa que elas gostavam em mim além da bike, que nem era minha. Era que eu conseguia arrotar muito bem, e elas nem faziam idéia do que era preciso pra tirar aquele som da boca. Então às vezes eu só parava na frente da casa delas e soltava um baita arrotão, pra avisar que eu estava por perto. De quando em quando a gente fazia outras coisas também, mas nada muito além de falar da bike ou dos meus arrotos. A verdade é que eu nunca as vi fora da varanda, na calçada. Acho que fui ver só uns anos depois, quando eu já nem falava mais com elas e também se fosse falar, já teria outros interesses além da bike ou dos arrotos, porque nem um nem outro era mais meu ponto forte.

17.6.06

Uma carta pra ela:

Eu nem sei direito por onde começar a me explicar. Na verdade eu nem sei porque eu tenho que explicar tudo a você. Acho que eu não suportaria vê-la sentada daquele jeito novamente, com as pernas cruzadas e recolhidas, como nos tempos da educação física do colégio, me olhando fria e com um leve movimento lateral do pescoço, tentando encontrar em mim de onde estariam saindo todas aquelas coisas que eu lhe dizia, se eram realmente verdades ou coisas que mais uma vez eu fantasiava. Mas pode acreditar, elas eram reais. Tão reais que consegui me conter e esconder de você algumas palavras que poderiam nos unir de forma bela e singela, esquecendo todas nossas brigas fictícias e a opção por não termos piedade um do outro, tocando nos sentimentos mais baixos e que se fossem usados de forma sincera comprometeriam nossa aproximação.

Nos escapamos um do outro num momento de descuido, em que eu fazia fita pra saber se o que você sentia por mim era real, mas que coincidiu com suas intenções não muito diferentes, de me abandonar e esperar que eu fosse o dono das atitudes desta vez. Nós nos perdemos, e não existe culpado. Não me julgue por ser o cara que deixou de agir quando você quisesse me ter, porque eu não a vejo dessa forma. Você também é responsável por esta, mas não quero deixar isto claro porque seria muita arrogância da minha parte.

E quando as coisas mudaram entre nós, ainda existia muita coisa presa dentro de mim que eu insistia em não mostrar, porque jogar baixo com as pessoas da qual a gente gosta nunca foi meu forte, e talvez nunca seja. Tudo bem que muitas vezes ouvi de você que eu parecia uma pessoa estranha, calado com meus pensamentos e posições que contrariavam as suas, e que não conhecia sequer uma única pessoa que se parecesse comigo nesse aspecto, deixando claro que isto era algo que você admirava em mim. Você também possui coisas que calham a serem admiradas de minha parte, mas com o passar do tempo parecem ter sido mudadas propositalmente, como se isso fosse me fazer te odiar. Portar-se desta forma não condiz com suas atitudes e isso eu percebo fácil. Tão mais fácil do que suas próprias amigas e pessoas que vivem nos rodeando.

Você mudou. E eu não disse nada. Eu não tenho que dizer nada, mais nada. E agora não precisa contar ao mundo que fiz questão de te não querer mais, porque isto não vai soar bem pra uma mulher como você. Vai parecer que sou eu quem está por cima, coisa que sempre abri mão, e você sabe como eu faço isso bem. Agora está ficando tarde, e eu preciso deixar claro mais uma vez que apesar de ainda nos darmos tão bem, vou me afastar novamente. Como no começo. Infelizmente não posso mais ser o cara que vai atender o telefone de madrugada, porque você não consegue dormir preocupada com o trabalho no dia seguinte ou então aquele que vai saber quando e como começar a brigar de verdade com alguém que realmente nos incomoda, deixando de lado toda calma e paciência nítidas em mim, porque como eu te disse uma vez:

"as águas paradas são as que têm maior profundidade"

Look out kid, it's something you did...

Um espaço em branco na minha frente pode ser facilmente preenchido se eu não tiver muita coisa pra fazer, além de levar meu fardamento pra lavar ou então dar um brilho descente nos dois sapatos já de solas gastas. Quanto mais ainda se eu tiver como suporte uns bons copos de café e um únco maço de cigarros qualquer (de preferência, os meus). Talvez na ociosidade da rotina, investidas indolores em resgatar algo perdido, ou melhor, algo pausado no tempo que sequer correu de fato, podem me trazer de volta todas articulações praticamente em desuso.

Quando um pássaro caga homericamente na tampa da sua cabeça, e você sente aquele quase mijo correr quente sobre sua testa e depois descer aos poucos pros olhos e então você sentir o cheiro bom da sua imaginação, tão fértil a ponto de cultivar batatas que já brotam fritas, fatiadas em slicers importados e que chegam a ficar transparentes se olhadas contra a luz. Faz com que as rugas dêem lugar à lucidez, como Peter Pan, o cara que esqueceu de crescer.

Às vezes um espaço em branco não é o bastante, é preciso pegar o que já existe e maquiar daqui, atarrachar dali. Voltar a brincar com "o argumento" do qual tenho sede de ver crescendo cada vez mais, desde o aniversário de minha mãe, desde o tempo em que fui apaixonado por alguém que me levou pedaços de textos dedicados e palavras amarradas às outras, que davam algum jeito de explicar meus sentimentos. Talvez não seja como descobrir que seu braço é forte o suficiente pra lançar a bola de um campo ao outro, mas sim descobrir que seu braço ainda pode ao menos lançar, isso é bárbaro.

Questionei inclusive como me senti incapaz de fazer nascer algo novo, ouvindo as coisas que despertam toda uma vitalidade cheia de anseios e também as coisas sem muita razão, sem face e tamanho. Apenas bons fluidos, good vibrations, nada de estereótipos ou nomenclaturas ridículas. Nada fora dos parâmetros, algo como "só quero brincar de novo".


14.6.06

Esta para nascer o novo CHE, antes mesmo de ser fecundado!

Sabe aquela história de pegar uma motoca, mais um bom amigo, e sair por ai, meio que sem destino mas com muita coragem e busca por uma vivência sem fim?
Foi assim que começou um encontro na semana passada, colocar idéias e papos em dia, só que foi muito além disso, foi quase um filme, ou a estrutura dele...
O enredo era ter a câmera em mãos, se aventurar, registrar e depois colocar tudo na vida de um personagem. Quando chegasse a hora de mostrar a todos, iria sugir comentários:

- Aonde foi que tiraram essas coisas?

Pode parecer conversa jogada fora, mas pra mim foi instigante, como se tivesse um livro lindo na minha frente pra ser lido (ou mesmo escrito). A fantasia de fazer essa "loucura", que no final das contas traria muitos frutos positivos, e saída praquele que ainda esta "desorientado", querendo um porque!

Era a viagem que busquei na Europa, mas por esses lados seria diferente, mais difícil e com o exemplo do passado, de sucesso!

Vai continuar, nos sonhos ou ilusões, rebatendo, quase que se configurando, todas as noites esse tal filme. Fica a responsabilidade do companheiro, arrumar o transporte pra essa viagem sem fim...

Enquanto isso, vou viajando na pista! Dançando sozinho...

7.6.06

Do jeito errado, tudo se ajeita.

Eu sou um fracasso com planos, meu pai tinha razão quando dizia "não faça planos, pois a vida acontece enquanto você fica botando minhocas na cabeça". Se eu quiser começar a estudar, não vou conseguir porque dentro de alguns minutos já esqueci que tinha planejado isso, então não adianta procurar pelos resultados lá na frente. É óbvio, eu esquecia dos meus planos, por isso não conseguia atingir nenhum deles por completo!

Juntar uma grana, parar de fumar, fazer algum tipo de atividade física, melhorar a limpeza de casa, essas coisas não tinham fundamento algum porque enquanto as planejava eu estava sentado com os pés sujos em cima da cama, tomando cerveja, fumando e vendo filmes (5 paus pra alugar), exatamente o contrário do que pretendia.

Talvez minha maior proeza dos últimos meses tenha sido me livrar de coisas que eu não precisei fazer planos, simplesmente apaguei como se fossem arquivos que precisassem ser jogados na lixeira, sem pensar nas consequências, como quem joga um papel de bala no cesto. As coisas viraram de ponta cabeça, foi um absurdo, porque tudo o que andava fora do lugar entrou nos eixos e eu finalmente não tive mais preocupações depois disso. É até estranho não querer fazer planos agora, soa como falta de ambição...