Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

22.4.07

Por um sentimento alheio

Eu quero acordar de manhã, com todo o cuidado pra não fazer com que você abra os olhos. Levantar ainda em silêncio, sem precisar me vestir porque dormi de roupa e sapatos outra vez. Sair pela porta da sala como um gato de foge por cima do muro, sem ninguém notar. Ir buscar seu café, pão de queijo, ou seja lá o que você goste. E não são nem sete da manhã ainda, mas a rua está cheia de idosos e pessoas que se julgam saudáveis, fazendo suas caminhadas matinais, como um outro domingo qualquer. Sou o único diferente entre eles, ainda com roupa de trabalho e cara de quem levantou no meio da noite porque a mulher teve vontade de comer geléia de framboesa no meio da madrugada. Faço isso com o maior prazer do mundo. E não porque terei algo em troca. Eu amo você. E isso é como jogar pedrinhas na sua janela do segundo andar. Até parece filme.

Faço tudo isso ainda com o pudor de quem respeita uma mulher comprometida, o que me deixa ainda mais doente por você. As pessoas não sabem, ou se sabem, fingem não entender. Como a gente. Como a gente que rachou um colchão (se é que dá pra chamar aquilo de colchão) em uma sala tão fria quanto a rua, sem cortina ou janela. Por isso acordei às seis e tanto da manhã, deitado no chão sujo, medindo cada mínimo espaço pra que você ficasse com a maior parte do colchão, enquanto te observava dormir e fingia que fazia o mesmo. Daí você dizia "está acordado?" e eu respondia com um gemido de quem já havia "apagado" à horas. Uma situação completamente aceitável, mesmo que no dia seguinta você me olhasse como se quisesse dizer "por que diabos faz isso?"

Trouxe seu café. E dos outros também. Mas todo mundo dormia ainda, era muito cedo pra cobrar alguma coisa deles em um domingo decente como aquele. Tudo o que eu queria fazer era ir pra casa e pensar a respeito. Talvez escrever, fumar, beber, não sei. Ou então me orgulhar de tamanha resistência. Pra você eu fui um fracote, e não escondo isso de ninguém que me questione a respeito. Você estava ali, do meu lado, pedindo pra que eu evitasse que o frio nos incomodasse, e o melhor que pude fazer foi evitar que o frio chegasse até você, apenas. Nada mais. O frio pra mim não faria a menor diferença, pois foi tudo o que eu consegui fazer naquele dia foi agir conforme o tempo: de maneira fria.

Amo você. Mesmo sabendo quem seja, afinal.

5.4.07

coisas temporariamente insuperáveis

Era um recado pra mim: ligar pra pessoa que me "carregou nas costas" na escola. Poxa, já até imaginei quem seria, não poderia haver outro alguém. Não que ela tenha me carregado nas costas, mas já pude imaginar de cara quem diria uma coisa destas. Tá, daí eu pego a porcaria do telefone e ligo. Quase três meses depois, eu e minha conversa chata e irônica de sempre.

- alô, boa tarde?!
- boa tarde... quem é?
- como quem é? a pessoa que "você carregou nas costas"...
- (risos)
- muito boa...
- e ai caipira, tá vivo ainda?
- claro, eu não tenho a intenção de morrer cedo...
- ai, lá vem você com o bom humor de sempre! tudo bem?
- bem...
- tá trabalhando lá ainda?
- ainda?
- (risos) é... não quis trabalhar comigo, deve estar insatisfeito aí, não é?
- (risos) pelo contrário...
- precisava falar com você!
- ah é? e sobre o quê?
- a gente vai voltar a estudar, certo?
- eu sim, e você?
- estou falando juntos...
- ah, claro... você ainda está com estas idéias? achei que fossem da boca pra fora... coisa do tipo "não vamos perder contato, ok?"...
- sério! vamos ou não?
- sim, sim... já estou quase lá!
- ah, mas me espera... agora não dá pra mim, tem que ser daqui há um tempo...
- (risos)
- sabe que ainda estou MUITO chateada com você, né?
- lá vem você... e por quê?
- por que amassou aquela folha que te dei...

Puts, isso foi no meio do ano passado... pedi pra ela copiar uma parte da matéria pra mim enquanto eu prestava atenção na explicação, daí ela volta com uma página inteira de garranchos. Ela tinha escrito tudo com a mão esquerda (e era destra). Só podia ser sacanagem, amassei na hora e joguei no lixo. Claro, eu tinha que ser educado assim. Depois vi a cara de dó que ela fez e peguei de volta, desamassei e coloquei no meio do caderno pra ver se voltava ao normal.

- nossa, você ainda lembra disso?
- nunca vou esquecer... fiquei louca com o que fez!
- calma... eu guardei a folha, nunca vou jogar fora...
- agora é tarde...
- como assim tarde? (seria melhor dizer "o que quer dizer com isso?")
- porque estou namorando!
- QUÊ??? (saiu sem querer...)
- shiu! não é pra fazer escândalo...
- tá...
- é, depois te conto melhor!
- e me ligou pra dizer isso?
- claro que não... mas me liga depois, daí a gente se fala.
- é, tem algumas coisas que você precisa escutar, mas não por telefone!
- uau! mas é tarde amorzinho... (risos)
- (risos) não seja tão humilde... não tem nada a ver com isso... (isso o quê?)
- tá, mas vê se me liga!
- não, não vou te ligar....
- por quê não?
- pra você dizer "me liga mais tarde?", não tô afim...
- (risos) tá....
- é, não vou ligar...
- beijos!
- beijos.

Porra, pra contar isso?
Conta pro travesseiro, ursinho de pelúcia, sei lá!
Eu nem lembrava mais do seu nome!
Eu acho...

3.4.07

bull shit

people say opportunities are unique
dad said that you have them as much as you need
but lost in a kaffegeschäft in munich
things don't work like that

the bartender doesn't know your name
or even where you come from
he is just worried about the money you'll give him
when the night is gone
and that is it

women
they think just the same
but for a job that bartenders can't do

and this is just one reason
to lie about myself:
god gave me ten chances to prove
that dad's theory is bull shit