Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

31.3.06

No começo, meu gerente me encaminhava uns e-mails com informações importantes, pra que eu aprendesse rápido os processos que ocorrem no dia-a-dia. Até aí legal. Mas ele sempre colocava um texto junto, do tipo "dá uma olhada nisso aí" e eu olhava. Aí uma vez ele colocou "PSP" e eu não entendi, achei que ele tava tirando um sarro de mim, afinal eu ainda sou estagiário. Uma outra vez ele também colocou umas letrinhas, que mais uma vez eu não entendi. Era "FYI".

Achei um barato, eles tiravam sarro de mim e eu não ficava puto. Era a prova de que eu tinha aprendido a me controlar, ficar calmo, paciente. Mas uma vez pediram pra eu mandar um e-mail pra ele e eu todo afim de descontar a sacanagem, botei lá:

"SDJFLSJDGLK"

De: Fulano de Tal
Para: Beltrano do Mal
Assunto: ENC: Planilha

Caro Fulano,

Bla, bla bla blabla....
.................



Estagiário, Inocente e Idiota.
Quase fui despedido.

Só depois fui descobrir que "PSP" era "Para Seu Parecer" e "FYI" era "For Your Information"

27.3.06

Umas cartas

Eu escrevia como se fosse enviá-las, mas sabia que me faltava coragem. Eram na maioria cartas tristes, daquelas se ela tivesse lido iria me achar o cara mais angustiado e sozinho do universo, embora em poucos dias eu já voltasse ao normal. Nelas dizia que nada tinha mudado, que eu continuava o mesmo vagabundo de sempre, sujo por fora e puro por dentro, de alma e coração, um cara sem ambições pitorescas, idéias que não eram fáceis de se acreditar, mas ainda assim eu continuava escrevendo aquelas cartas, e para mim era como se ela tivesse lido todas elas, inúmeras vezes, mesmo sabendo que a essa altura eu já era apenas mais um.

Novato

Se tem uma coisa que custei a acreditar era que dinheiro pudesse mudar as atitudes de alguma pessoa. A não ser as pessoas completamente descabeçadas, sem um pingo de valor e pé no chão. Não sei se é porque passei uns dois anos abanando o rabo pra qualquer um, mas agora que consegui um trabalho decente (que como já disse, dá até comida e transporte) ainda não sei o que é desfrutar desses prazeres todos, parte porque sou mesmo um cabeçudo com dívidas e parte porque sou apenas cabeçudo que sempre reclama de suas giletes amarelas de 1.41

Questão de tempo

Sabia que algum dia eu iria chegar e dizer pra mim mesmo "bons tempos aqueles, não?" e que não seria a primeira e nem última vez. Mas agora é diferente, eu realmente não sinto falta daquela fase de descontrole em relação às mulheres, de gostar de todas e nenhuma ao mesmo tempo. E curioso era que eu não tinha firmado nada com nenhuma delas, e talvez por isso eu tinha até um certo receio. Mas a questão é "lute sempre pelos bons tempos, porque você sabe que eles não vão durar muito..."

Forçando a barra

A primeira "temporada" que passei sozinho em São Paulo durou cerca de quarenta dias, e eu não queria voltar pro interior de jeito algum. Fiquei tão maravilhado com a imensidão das coisas que achei que aqui fosse definitivamente o meu lugar. Hoje já não penso mais em toda essa baboseira, mas estou vendo até onde consigo chegar caso fique aqui por volta de um mês. E é o pretendo fazer, me testar, voltar a lutar pelo "ir até o fim".

A parte boa (e suja)

Se a preocupação de antes era o excesso de álcool, hoje já não acho que isso me incomoda. Beber é uma coisa que tenho feito pouco, por incrível que pareça. Eu até que gosto de passar um tempo na onda boa, me esquecendo de como é gastar a noite toda enchendo a cara, na companhia indispensável de meus parceiros, mas aí quando bebo um pouquinho (só um pouquinho mesmo) já percebo que me tornei um fraco, tudo isso por questão de uns vinte dias longe do remédio. É falta de prática.

O mundo Royal

Antes eu só achava que o Cara lá de cima tinha me reservado uma vaguinha de milionário e detentor de títulos de golfe, squash e gamão indoor, mas hoje posso dizer, com algumas poucas oportunidades que tive, que esse mundo é mesmo nojento e sem escrúpulos algum. Muita gente querendo se comer por vaidade e mesquinharias. Muita boca, peito, bunda, dólares e pouco (mas pouco mesmo) cérebro. Pessoas da mais fina fatia da sociedade, frequentadores de torneios de turfe e jantares a três mil reais, o prato (ah, perto de casa tem um frango + arroz + feijão + fritas + salada por cincão, o prato), e não sabem sequer como é possível uma pessoa dar vida a um simples desenho na folhade papel ou talvez clicar no link "enviar" pro e-mail aqui do Brasil ir parar na LeMon Bijou, faculdade de etiqueta da sua filhota, em algum lugar da fedorenta França. Decidi me afastar de tudo, prefiro meu PF (por cincão) e meu cigarrinho vagabundo (e falsificado) que o sempre sonolento, mas gentil, Seu Horácio me vende nos domingos de manhã.

14.3.06

Amor e Ódio: a fase "rejeição"

É tudo igual às briguinhas da terceira série. Você gosta da menininha bonitinha, aquela mesma que seus três melhores amigos também gostam. Ela tem duas ou três amigas, e você vive tentando convencer os caras que elas são mais bonitinhas que a fulana. Mas você, e muito menos os caras, têm coragem de assumir que gosta de alguém. Porque confronta a aceitação da turma, que acha que "você está mudando" só porque começa a passar mais tempo no intervalo junto delas do que com a galera que fica brincando de queimada, ou então muda sua carteira mais pra frente, fugindo do fundão e do clube do bolinha.

E num belo dia você descobre, por acaso, que essa fulaninha também gosta de você, mas que tem vergonha de contar. E tudo muda! Sim, tudo muda mesmo. A ponta do seu lápis quebra, e pra quem você pede o apontador? Quem pede pra furar a fila na sua frente e, é claro, você deixa? Quem é a primeira pessoa que você procura quando chega na escola? Mas aí você procura inúmeros motivos pra estar sempre falando com ela e também pra ficar perto. E é aí que os dois se conhecem de verdade. Ele faz as piadinhas mais ridículas, capaz de humilhá-la sem dó. Não interessa, a intenção dele é chamar a atenção dela, independente da maneira. E ela se mostra a mais fresquinha, mimadinha e patricinha, como o resto do seu bando. As maricotas, com seus rabos-de-cavalo e primeiros soutiens. Se acham donas da escola, e você vira o marginalzinho, o quebrador-de-vidraças, o carinha que escreve coisas obscenas atrás da porta do banheiro e que às vezes até chuta a bola nas meninas.

Vocês viram rivais! E começam a se odiar, como dois inimigos, e as amiguinhas dela tomam as dores, e seus amiguinhos também. Até que um te trai, e passa pra gangue delas. Esse é o viadinho. Caretas comem solto na aula, bolinhas de papel, fulano gosta de fulana e você nega com um "cala a boca se não te acerto!" Mas no final das contas, tudo é parte do ritual, do muro estreito que você está, dividindo o amor e o ódio. E logo logo, com uns quinze ou dezesseis anos, vocês acabam ficando juntos, e muita coisa pode acontecer. Só depende se você continua sendo o quebrador-de-vidraças e ela a maricota de rabo-de-cavalo...

6.3.06

Terror

Passei a madrugada da sexta e quase o sábado todo brincando sozinho com minhas coisas e aceitando mais uma vez que os dias de glória trancados dentro do meu enorme apartamento voltaram de vez. E não acho ruim, se quer saber. Ao menos tenho tempo suficiente pra ficar confabulando coisas novas e talvez atarrachar algumas peças dentro da cabeça, que vez ou outra me bota em situações seriamente assustadoras.

Mas depois de ficar à deriva o sábado todo, e procurando sarna em qualquer lugar possível, decidi sentar no beiral da janela pra fumar um cigarrinho antes do banho. Bati o olho do outro lado da calçada e lá estavam duas loirinhas dentro de um salão. Na verdade aquele salão era de outra dona, e eu sempre ia lá pra dar um tapa no cabelo, mas depois que mudou eu nunca mais botei os pés lá. Daí percebi que estava na hora de cortar as madeixas de novo. Bingo!

Idéia genial para alguém que não tem o que fazer num sábado às 7 e cacetada da noite, com dez mangos no bolso. Joguei o cigarro fora, botei o chinelo e uma camisa e lá fui eu conhecer o salão das loiras. Oras, eu trabalho com o mercado e para avaliá-lo preciso ter conhecimento de tudo. Bela desculpa. Aí cheguei na porta, e já vi as duas ajeitando as coisas como se estivessem fechando. Merda, será que elas vão negar um cortezinho pra mim?

- Tá fechado? - falei, puxando a porta de vidro.

Daí uma olhou pra outra, que perguntou pra mais uma morena que estava no fundo e responderam que não. Ótimo, meu cabelo já estava cobrindo os olhos. Uma delas ajeitou a cadeira, enquanto a outra gritou "Serginho! tem cliente..." Puts, eu era mesmo um cara de sorte! Entrei no salão pra fazer um doce e elas me chamam um cara do tamanho da porta pra cortar meu cabelo? Ah não, eu não merecia aquilo.

E lá veio a franga, toda dengosa, com um cinto cheio de tesouras e pentes pendurados. Já chegou trabalhando, no bom sentido. E as loiras apenas sentaram no sofá do lado e ficaram folheando as revistas e com o rabo do olho achando um barato a situação em que eu me encontrava. É nisso que dá quando um pastel tenta ser malandro. Trabalho feito, hora de lavar a careca. Ah, pelo menos podia ser uma delas, vai? A da tatuagem? Ok.


De repente tomei um susto, porque ela tentou puxar papo.

- Acho que te conheço de algum lugar... você é modelo?

Caralho, só faltava essa. Ainda tirava sarro da minha cara. Modelo de quê? Quitanda?
Só dei uma risadinha, mas ela bem que insistiu no assunto, e o pastel aqui todo sem jeito não fazia nada além de rir, porque o tal do Serginho já tava morrendo de ciúmes. E pra ter mais um pouquinho de graça, quando saía do salão ela correu e disse "deixa que eu abro a porta pra você, assim volta mais vezes..."

E eu saí do tamanho do cara do comercial do Honda, me achando o próprio terror das cabelereiras.

3.3.06

trouble boy

2006 começou pra mim na segunda-feira de Carnaval, quando acordei às seis da tarde esparramado em um colchão no chão de casa, com uma dor de cabeça dos infernos e podendo sentir a garganta inflamar mais uma vez em menos de quinze dias. Consequências de uma (ou umas) inconsequência, de gente que não tem fim e não sossega enquanto a coisa não arder. Tudo o que consegui fazer foi tomar um banho quente, botar uma roupa quente, tomar uma cacetada de remédios e tentar consertar algumas coisas que fiz e outras que disseram que fiz na noite anterior, que devo dizer, foi uma das mais retardadas de toda minha história de vida.
Mais uma vez volto a bater na tecla que nos últimos tempos não vinha me chateando: mulher. Isso é até inédito, mas é verdade. A não ser um ou outro arranca-rabo, coisa antiga, o resto caminhou tudo nos conformes, a ponto de me enojar e parar pra pensar qual seria o final de toda essa palhaçada. Eu tinha decidido que não faria mais sacanagens com ninguém, independente do grau de relação que havia entre a gente, mas se um dia você já fez isso e outros ficaram sabendo, você simplesmente se fodeu na condição de "fez a fama, deita na cama". E qualquer pisadinha na bola é motivo pra pensarem que as coisas continuam do mesmo jeito, e que homem é tudo igual e que você não mudou porcaria nenhuma. Até concordo com um fator: depois que alguém perde a credibilidade, fica mesmo foda consegui-la de volta. E acreditar na palavra de alguém que caiu em descrédito também deve ser como crer em papai noel...

Não há nada que eu possa fazer agora, porque entrei nessa por diversão e acabei me envolvendo de um jeito que não estava nos meus planos, tentei fazer tudo correto e até corri de coisas que pudessem estragar tudo. Fui durão! Mas agora o ano começou realmente, não há mais tempo pra lamentações ou arrependimentos (embora se eu pudesse voltar no tempo, esse carnaval seria o primeiro a ser refeito) e eu me mato na rotina que parecia nova há alguns dias, mas já se tornou rotina com as mesmas letras de outras. Volto a me foder por causa de mulher daqui a pouco, tenho certeza, mas nem quero pensar nisso antes da próxima encarnação. Só uma coisa ficou me incomodando: eu achava que o problema estava nas mulheres, mas ultimamente sou um problema pra muito mais gente do que imaginava.