Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

11.2.07

all my perfect ladies

there's no ring in her hands
I can see it from far
she just walks in my brain
messin'round with my heart

but there's no ring in her hands
and a cartier as well
all I've got is her breath
making noise like a bell

and there's no mistery in pants
when you see they are gone
forget about the gold ring
and just have the job done

KIDS

Nós éramos pequenos. Não muito, mas o suficiente pra desconhecer as diferenças entre como entrar em uma festa de quinze anos que você não foi convidado e as coisas sérias e perigosas que a vida ofereceria no futuro. Na verdade o que a gente fazia nunca tinha propósito algum, ninguém pensava que um dia tudo poderia acabar e que algumas coisas ou pessoas poderiam mudar o sentido de nossas vidas de maneira tão significante. Eu não queria crescer e virar turrão. Eu não queria ter que usar paletó e gravata pra trabalhar, ficar preocupado com as contas no final do mês, ou sequer passava pela minha cabeça que um dia eu teria que sentar na mesa e fazer cálculos pra ver se o orçamento seria o bastante pra custear minha vida. Talvez a única coisa que eu tinha consciência era de que meu pai não me sustentaria para sempre, mas até aí eu também não imaginava quem seria essa outra pessoa iluminada, que não eu.

Antes era “parece que vai rolar um futebolzinho na chácara de fulano, encontrei com ele na saída do clube” e hoje eu percebo como as coisas mudaram. A gente encontra os amigos na saída do trabalho, ou então quando fala em viajar pra se divertir, alguns não podem porque trabalham e sacrificam grande parte do seu tempo tentando conquistar coisas através dele. Muita coisa mudou, e não sei se isso é bom ou ruim.

Muitas pessoas que a gente chamava de amigo e freqüentava a casa quase que diariamente hoje sequer faço idéia de onde esteja ou do que esteja fazendo. Talvez porque encontrou outra coisa mais importante do que o clube, ou então do que os carrinhos de lanche da vida, coisas como faculdade na puta-que-o-pariu, longe pra burro e as namoradas que o prende e o amordaça. É muito difícil falar sobre isso, não sei onde muita gente foi parar nesse meio tempo. Na contra-mão disso tudo tem uma outra situação curiosa. Alguns que antes a gente chamava de pirralho e “turma da molecada” passaram a freqüentar o mesmo dia-a-dia que o nosso. Parece que quando somos criança as idades são muito distantes umas das outras, mas um tempo depois você percebe que não é bem assim. Os adultos ficam adultos e ponto. Não interessa se têm quarenta ou vinte e oito. São adultos. A idade não tem mais tanta importância. Às vezes é mais importante o que a pessoa realmente é do que o que ela foi um dia, independente de quantos anos demorou pra chegar naquilo.

E é engraçado como os julgamentos na infância são exagerados, os pais falam que “aquele seu amigo é perdido, não vai virar nada” e dali um tempo alguém vira e diz “paciência, um dia a vida ensina a ele o que é certo”. Na mosca.

A vida ensina, e continua ensinando a todos. As perdas nos fortalecem, os sapos engolidos também. Assim como cada passo em falso que foi dado e criticado severamente.

Eu cresci ouvindo as pessoas dizerem que as meninas amadurecem mais rápido do que os meninos. É verdade, concordo e sempre concordei. Enquanto a gente pensava em jogar bola e fazer arruaças pela cidade, elas estavam falando sobre menstruação, “a primeira vez” e até sobre filhos, coisa que nós homens nunca esquentamos muito. Mas no período da saída da adolescência parece que elas dão uma “empacada” (calma lá meninas, isso não é uma crítica), elas são muito mais toleradas pelos pais do que nós. As cobranças existem dos dois lados, mas pros homens tem sempre aquela conversa de “eu não vou sustentar você para o resto da vida, é bom você dar um jeito nisso”, que os pais vêm dizendo, não querendo cobrar, mas apenas como uma maneira de te abrir os olhos. Você se desespera, acha que nunca mais vai ter o colo da mãe porque cresceu demais, tem barba e até faz tipo de gente grande. Daí sai à toda pelo mundo, tentando dar um jeito de parecer adulto, pra eles enxergarem que agora sim você está aprendendo com a vida, que não é um perdido e que tem condições que falar um pouquinho mais grosso com os adultos de verdade, mesmo que você continue fazendo xixi na cama ou gostando de desenho animado, enfim, coisas de criança de verdade.