Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

28.4.06

Complô

Fuja da seita delas, pois elas querem dominar o mundo. Agora é fato, eu dizia, ninguém acreditava: as mulheres de hoje têm todas praticamente o mesmo cheiro! Eu não sei que raios de perfume é esse (eu assisti "Perfume de Mulher", mas não me despertou o interesse de conhecer tão a fundo as essências que elas usam), também não sei dizer com o que ele se parece, mas a verdade é que desde a faxineira da quitanda até a maricota fresca da padoca ajeitada usam o mesmo perfume. E o pior é que essa porcaria cheira bom, cheira pescoço, e pescoço é foda!

26.4.06

Já ouviu barulho de silêncio?

Parece que o mundo inteiro está parado, sem fazer nada. Já é tarde da noite, o resto da empresa foi embora, eu fico me perguntando o que faço aqui até agora (não é só pra usar o telefone), sendo que não tenho mais trabalho. Até o cheiro é de silêncio, de um ar-condicionado maldito que fode com minha garganta pelo menos uma vez por semana. Eu já estou tonto, de tanto olhar pra tela do computador e de ouvir quase 50 pessoas falando comigo ao mesmo tempo.

Isso significa a encrespada fase NEUTRA.

Prepare-se.

14.4.06

quem é você, eu não sei
me diz agora, vai
sabe tudo de mim, e me poupa do fim
pede o céu, meu chapéu
e o brilhante do anel
esconde a graça, disfarça
põe o assunto em questão,
me foge , se rasga,
pede só o coração
foge uma, duas, se entrega no não
desconheço a intenção!
tente só outra vez
e enfatiza meu "ê",
quero ouvir o que vê
do seu jeito incomum, de quem sabe voltar
arranca o grito, disfarça
tô indo pra ficar
é na mesma estação
que passou num verão
você viu, eu vi
não perca a chance!
fico aqui.

11.4.06

Peguei uma lata grande de ferro, rasguei foto por foto, carta por carta, corações de guardanapo e umas flores murchas que ficavam no copo em cima da geladeira. Despejei um bom tanto da garrafa de álcool dentro da lata, e depois que eu não conseguia identificar mais nada, risquei um fósforo e joguei. Era essa a minha vontade, sempre foi. Botar fogo em tudo o que incomodava, tudo o que tinha a ver com ela e com seus interesses profanos. Mas eu era um bundão até alguns minutos antes de encontrar aquela caixa de fósforos dando bobeira do lado da minha cama.

Tirei meu caderno da gaveta do criado mudo, abri nas páginas que tinham a orelha dobrada pra dentro, arranquei todas elas com a mão mesmo, e fui mantendo o fogo da lata aceso. Parecia que mesmo eu querendo apagar da memória os tempos mais imprestáveis da minha vida, eu tentava manter "a chama acesa".

7.4.06

"Tenho raiva, ciúmes, mordo a ponta da toalha, fico nervoso, fumo um cigarro, olho as horas, me encho de remédios, de bebida, de ilusões, mentiras e sujeiras, fumo outro cigarro, cerro os punhos, mas não adianta. Eu causo tudo isso a ela também..."

6.4.06

olheira profunda,
lábio trepidante,
nariz escorrendo e
chuva incessante.
meu corpo se choca
contra o muro arredio,
esbarro nos traços
deito no meio fio.
ouço som de tristeza
e me vem à memória
passagens de choro,
temor , depois glória.
quando ergo a cabeça
só o que vejo é fumaça
da neblina que vêm e
da dor que não passa.
ela tapa-me a vista
tento ver que é ruim
mesmo de sola gasta,
só o que quero é o fim...