Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

24.5.05

FÚRIAS E FREIOS

Eu quis musicar os versos maldosos
Daquele menino anarquista
Que fez poesia lacunada em linhas duvidosas
Buscando liberdade a par de irresponsabilidade.


Mas quem pode pará-lo ?
Ninguém pode.
Nem a mais dura sarjeta tem tanta força,
Menos ainda os braços armados verde-oliva.
Então quem pode ?
Ou o que pode ?

Tão simples fosse a embriaguez que o conduz ao fim,
Bem como a própria gana de lá chegar
Estes sim seriam capazes.
Sua parada é simples: o tesão da conquista

Antes disso, deixa pra lá...


Há uns meses atrás, entre um café e um cigarro, saiu algo assim.
Ao meu querido amigo, o qual sinto uma saudade imensa.

23.5.05

BH, Cabra Cega e meus amigos da Augusta

Já botei o pé pra fora de casa com um certo espírito revolucionário, parecido até com a vez em que fui assistir Diários. Mas Cabra Cega me trouxe a sensação de já ter passado pelos lugares onde aquela luta armada aconteceu. Antes da sessão entrei no BH, um buteco da Augusta que tinha fechado pra reformas, e justamente naquele dia, marcava a reinauguração. Eu tinha de me preparar, pois já imaginava o conteúdo do filme. Vodca, cerveja e cigarros; Não necessariamente nesta ordem, mas um de cada me bastou pra sentar na poltrona do cinema e relaxar.

O filme é fabuloso, pelo menos a forma como as cenas foram montadas e o ambiente minúsculo que não deixa a desejar. Só assustei um pouco com a quantidade de cigarros que o personagem principal fuma, dá desespero. Chega uma cena em que ele acende um na brasa do outro, num ambiente fechado. Caos ! Acabou que eu saí de lá e voltei pro BH, pra enterrar a noite.
Mas enrolei tudo isso pra contar que quando descia pra casa, um andarilho me parou e pediu um cigarro. Eu dei, na boa e ele ainda falou: "Moço gentil, toma aqui um cartão pra você levar para a esposa..." E tirou do bolso do paletó uma caralhada desses cartões do tipo AmarÉ, que eu guardei e fiquei pensando: "Esposa ? Será que eu vou ter que guardar esse cartão por tanto tempo assim ?"

17.5.05

[PAUSE]

Fui viver,
VOLTO LOGO !

11.5.05

“ORDINÁRIO, MARCHE !”

Eu tinha acabado de entrar na faculdade, e andava um pouco curioso pra saber como eu encararia as mudanças naquele ano, ainda mais sabendo que logo depois do carnaval, eu teria que fazer um favorzinho à Nação: servir o Exército. Cheguei a pensar que depois do colégio, tudo seria mamata e eu nunca mais teria que estudar, ou dar satisfação pra professor algum, mas eu ainda não sabia que chefes são professores que encaram tudo pelo lado pessoal.
Voltando pro Exército, eu já tinha me conformado que iria cumprir aquele ano sem ter de achar ruim, porque quanto mais eu reclamasse, mas eu odiaria aquela imposição. Então eu encarava como uma escola, só que aprendia muito mais do que 7 x 8 ou qual era a capital da Austrália, e comecei a perceber que aqueles ensinamentos ajudariam a formar um bom caráter, mesmo que apenas depois de um certo tempo.
Lembro que na primeira vez que o pelotão saiu pra correr, era umas seis e pouco da manhã e estava um frio medonho que até enrugava o bico do peito. Ninguém sabia os procedimentos corretos (é, tem tudo essas merdas...) sobre o que e como fazer as coisas ali dentro, então parecia um bando de loucos de shortinho verde e ki-chute correndo pela cidade.
Eu, me achando o malandrão, fiquei no final da tropa. Não tinha a menor vontade de chegar entre o pelotão de elite, ou entre os saudáveis, até porque eu nem tinha ar suficiente pra isso. Mas eu não estava sozinho, pois comigo ficaram dois caras baixinhos que nunca tinham praticado esportes na vida, e também não faziam o menor esforço pra “mostrar serviço”.

- “Quem ficar pra trás vai ter de pagar !” – gritava o sargento, que mais parecia o vocalista do Queen do que um soldado.

Um tempo depois, e nada havia mudado. Até parecia que os caras gostavam de chegar por último. E eu sempre dava uma força, pra correr um pouco mais, pelo menos pra não dispersar, mas não adiantava...
Pulando uma parte, esses dois caras foram meus melhores amigos lá dentro, durante aquele ano todo do serviço.



ORDINÁRIO – aprendizagem

Não sei se é conversa, se é mandinga ou se acontece com todos mesmo. Cheguei a uma conclusão lógica depois que terminei o serviço: o homem se torna muito mais escroto, cafajeste, canalha, cachorro, enfim, o ordinário – que vivem gritando pros soldados.
Deve ser pelo convívio diário com um bando de homens de tudo quanto é tipo. Você esquece um pouco o valor das coisas e começa a perceber que a camaradagem prevalece em muitos casos. Essa história, de que tem mulher que não pode ver homem de farda que já empina o rabo é verdade. Isso pude comprovar durante um período cafajeste, quando não dava mais valor aos compromissos e tinha desistido da utópica idéia de encontrar a mulher perfeita. Tinha muita menina malandra que ia lá de madrugada bater no portão do quartel, perguntando por um ou outro soldado. Falo da camaradagem porque muito soldado arrumava esquema pros outros também, e assim por diante. Chegou num ponto em que o sargento precisou cortar o telefone da guarda, tamanha a bagunça que aquilo tinha virado.

Mas como tudo na vida, essa fase um dia acabou e só acertei o pé quando desencanei dessa cachorrada sem-vergonha. Confesso que nos primeiros dias depois, bateu uma deprê desgraçada, mas aos poucos as coisas voltaram ao normal...
Não sei porque me deu vontade de escrever isso só agora, uns anos depois. Talvez seja porque senti saudade dessa fase, que dificilmente vai voltar.
Nem tudo que é estória vira história !

“That’s just a phase, it’s got to pass.
I was a train movin’ too fast…”

10.5.05

(DE) PRESSÃO !

Pressão a gente sofre quando duas (ou mais) coisas começam a nos sufocar, fazendo com que tenhamos de ceder para o lado mais fraco, ou então admitir a derrota e nos tornar perdedores. Isso acontece diariamente, porque estamos sujeitos ao erro em qualquer situação. Somos testados a cada partícula de segundo. Desde a hora em que acordamos, logo de manhãzinha, e temos que encarar os 12 graus lá fora, além do busão lotado e durante o dia todo, aquele seu chefe calhorda que enfia o canudinho na sua veia e suga tudo o que pode e mais um pouco, até a hora que saímos da aula e os amigos ficam te “intimando” pra ir pro bar, tomar a derradeira, e colocar uma pá de cal num dia exaustivo. Quando a pressão é forte demais, nós mesmos pagamos o preço. Acabamos abrindo mão do que mais nos incomoda, e ao mesmo tempo é útil.

De onde vem a pressão que nos impõem ? Aquela pressão do “Faça alguma coisa. Produza. Crie. Seja. Esteja !” é um saco, porque afinal de contas, você faz isso pro seu próprio bem ou pra agradar as pessoas responsáveis por essa cobrança ? E quando você pára pra pensar nisso, é porque alguma coisa está errada, e uma mudança deve acontecer. Logo !

Conselho ? O tempo AINDA é o melhor remédio...



APROVEITANDO...

Uma coisa que me faz olhar com mais repúdio ainda para a cidade onde fui criado, é o tamanho da língua daquele povo. Acho que se um dia quisermos escrever uma auto-biografia é só fazer uma pesquisinha rápida com os maiores fofoqueiros (Yeah!) de lá. Te garanto que eles sabem, e muito, da sua vida. E da dos outros também.
Por isso evito fazer algumas coisas que aquele bando de gente arcaica condena. Não me interessa nem um pouco ser assunto na boca deles, mesmo que estejam falando bem, vangloriando, babando meu ovo ou me elogiando. Acho hipócrita a frase: “Falem bem ou mal, mas falem de mim!” Por mais despreocupada que a pessoa seja, no fundo aquilo incomoda. E os comentários acabam sendo tão absurdos, que viram estória do dia para a noite, e você, que é a personagem principal, não sabe de nada e muito menos recebe os direitos autorais !

“Então quer dizer que você está namorando a fulana ?”
“É verdade que fulana está grávida ?”
“É verdade que aquele seu amigo usa drogas ?”
“Eu não sabia que seu primo...”

Paciência !
E continuemos na torcida para que as sociedades minimalistas se desenvolvam rápido e diminuam os preconceitos...
Porque só assim a gente vai poder fazer cocô em paz, no meio da rua da Estação !

Cerejinha

Lembro que ela passava sempre na janela da minha sala, e tudo que eu conseguia ver era o topo da sua cabeça e uma parte do rabo-de-cavalo, que balançava para cima e para baixo num sincronismo quase que de uma marcha. De lá de dentro eu podia sentir seu perfume doce, de sândalo com flor de laranjeira, que ao mesmo tempo era suave e me deixava um vazio tão grande no estômago que dava até fome. Eu já ficava ansioso pelo intervalo, só pra ver ela no pátio se sobressaindo diante das amigas que a invejavam. E o curioso é que ela não esbanjava, era puro charme. E talvez por isso eu era tão besta por aquele bailar exuberante.
A minha timidez não permitia chegar nem perto dela, e eu passava o tempo articulando maneiras de me aproximar sem falar alguma asneira que comprometesse.
Uma vez, no final do ano, a professora de artes me chamou pra ajudar num “projetinho” dela. Ela queria mudar a cara do colégio, colocando várias cores vibrantes no lugar daquele verde musgo (que mais parecia lodo). Ironia do destino seria eu entregar que a dona professora era mãe da gracinha três anos mais nova, e que eu vivia babando escondido nos intervalos. E se não bastasse isso, eu e alguns outros ajudantes tínhamos que ir todas as tardes na casa da professora, pra matutar sobre o tal “projetinho”. Exagero ? Não. Ela iria nos ajudar... Enfim, essas coisas que só acontecem na escola.
Eu, 17 e ela, quase 15, numa mesma mesa discutindo qual cor misturada com qual dava um tom de terracota. E eu nem prestava atenção nos outros. Éramos apenas eu e ela discutindo o sexo dos anjos. Até a mãe dela eu já havia deixado de lado, pois quem entendia mesmo do assunto era a filha. Pelo menos pra mim, o maior interessado. Me senti entrando em órbita, porque eu mal conhecia o som da sua voz, e num instante depois estávamos falando que as portas do banheiro deviam ser da cor de pirulito de cereja. Ninguém concordava conosco, mas e daí ? O que importa é que eu e ela temos a mesma opinião, o mesmo gosto. Ou eu achei isso só porque estava de quatro pela filha da professora ?

2.5.05

UM DIA, TUDO SE VAI...

A cabeça se confunde muito fácil, nossos sentimentos em relação às mulheres parecem não nos pertencer... Quando bate a solidão é praticamente um inferno ficar pensando em coisas fora do nosso alcance, ou nas pessoas que gostaríamos que estivessem do nosso lado. E se a gente toma uma iniciativa positiva, com a maior das boas intenções, é claro, estamos sendo precipitados ! E quando mantemos nossa posição, somos meros covardes.
Em um momento, queremos alguém para a vida toda. Alguém pra contar como foi o dia, como foi durante a noite, os sonhos, as decepções, os medos... E dali a pouco nos decepcionamos por não conseguir o que buscamos, então partimos para um caminho despreocupado, sem muitas regras e poucos sentimentos. Vamos revirando tudo, todos, e qualquer tipo de novidade que pinta na frente. Os momentos se tornam infinitos, enquanto duram, mas quando tudo acaba, abrimos os olhos e vemos que sentimos falta mesmo é daquela pessoa pela qual derramamos rios de sentimentos e preocupações. Coisa besta, coisa de quem gosta de sofrer e vive achando que o mundo é uma confusão sem tamanho.
Aí vamos buscar quem sentimos falta. E recebemos um carinhoso “Eu te adoro...”
O corpo esquenta e amolece, a mão pesa e o suor mina de onde puder minar, a língua enrola... e a gente tem vontade de mandar tudo às favas (ou à merda mesmo) e arrancar o coração do peito e enterrar numa caixa de concreto bem grosso, pra que ele nunca mais saia dali e nos faça passar por sufocos e desamores como esses... E elas não param de ir...

¿ Para donde corren las niñas ?