Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

17.6.06

Uma carta pra ela:

Eu nem sei direito por onde começar a me explicar. Na verdade eu nem sei porque eu tenho que explicar tudo a você. Acho que eu não suportaria vê-la sentada daquele jeito novamente, com as pernas cruzadas e recolhidas, como nos tempos da educação física do colégio, me olhando fria e com um leve movimento lateral do pescoço, tentando encontrar em mim de onde estariam saindo todas aquelas coisas que eu lhe dizia, se eram realmente verdades ou coisas que mais uma vez eu fantasiava. Mas pode acreditar, elas eram reais. Tão reais que consegui me conter e esconder de você algumas palavras que poderiam nos unir de forma bela e singela, esquecendo todas nossas brigas fictícias e a opção por não termos piedade um do outro, tocando nos sentimentos mais baixos e que se fossem usados de forma sincera comprometeriam nossa aproximação.

Nos escapamos um do outro num momento de descuido, em que eu fazia fita pra saber se o que você sentia por mim era real, mas que coincidiu com suas intenções não muito diferentes, de me abandonar e esperar que eu fosse o dono das atitudes desta vez. Nós nos perdemos, e não existe culpado. Não me julgue por ser o cara que deixou de agir quando você quisesse me ter, porque eu não a vejo dessa forma. Você também é responsável por esta, mas não quero deixar isto claro porque seria muita arrogância da minha parte.

E quando as coisas mudaram entre nós, ainda existia muita coisa presa dentro de mim que eu insistia em não mostrar, porque jogar baixo com as pessoas da qual a gente gosta nunca foi meu forte, e talvez nunca seja. Tudo bem que muitas vezes ouvi de você que eu parecia uma pessoa estranha, calado com meus pensamentos e posições que contrariavam as suas, e que não conhecia sequer uma única pessoa que se parecesse comigo nesse aspecto, deixando claro que isto era algo que você admirava em mim. Você também possui coisas que calham a serem admiradas de minha parte, mas com o passar do tempo parecem ter sido mudadas propositalmente, como se isso fosse me fazer te odiar. Portar-se desta forma não condiz com suas atitudes e isso eu percebo fácil. Tão mais fácil do que suas próprias amigas e pessoas que vivem nos rodeando.

Você mudou. E eu não disse nada. Eu não tenho que dizer nada, mais nada. E agora não precisa contar ao mundo que fiz questão de te não querer mais, porque isto não vai soar bem pra uma mulher como você. Vai parecer que sou eu quem está por cima, coisa que sempre abri mão, e você sabe como eu faço isso bem. Agora está ficando tarde, e eu preciso deixar claro mais uma vez que apesar de ainda nos darmos tão bem, vou me afastar novamente. Como no começo. Infelizmente não posso mais ser o cara que vai atender o telefone de madrugada, porque você não consegue dormir preocupada com o trabalho no dia seguinte ou então aquele que vai saber quando e como começar a brigar de verdade com alguém que realmente nos incomoda, deixando de lado toda calma e paciência nítidas em mim, porque como eu te disse uma vez:

"as águas paradas são as que têm maior profundidade"