Não pelo o que faço, mas como faço.
Ela é tão pior quanto o meu cigarro, que eu sei que vai acabar me matando e mesmo assim eu continuo consumindo. Talvez se diferenciem pelos valores, ela é um artigo de luxo, enquanto meu cigarro é apenas um monte de folhas secas trituradas enrolado por um papel de má qualidade, e eu também não consigo viver sem. Estão me sufocando, me tirando a tristeza da vida, e colocando um pouco de medo dentro do peito, o que pode significar adrenalina, emoções, riscos.
Às vezes paro e penso como fui capaz de construir algo imenso em tão pouco tempo e destruí-lo em tempo menor ainda. Aquela primeira noite ainda não me sai da cabeça, eu nunca pensei que pudesse ser tão sujo a esse ponto, tão baixo, sorri todo o dia seguinte mas devia mesmo era tentar vomitar pra tirar tanta podridão de dentro... talvez eu realmente não mereça me apaixonar. É, apaixonar, gostar de alguém de verdade, alguém que eu trate bem e cegamente, não de acordo com o que recebo, porque se continuar assim, serei um bloco de gelo pra sempre, respondendo aos ataques com contra-ataques ainda piores. Eu nunca pensei que pudesse tratar alguém desta maneira fria e calculista, por mais que eu goste dela. Fui capaz que acabar com tudo em apenas uma frase: "vamos esquecer o que aconteceu aqui esta noite, ok?" Ela nem me olhou, apenas balançou a cabeça positivamente e continuou dirigindo enquanto eu me esparramava no banco do lado, dando a entender que estava fazendo aquilo como quem despreza as moedinhas de sobra da padaria.
