Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

14.12.06

Ontem foi sábado, e hoje já é quinta-feira. Os dias têm passado tão depressa e eu pouco presto atenção no que acontece ao meu redor. Na verdade eu não tenho reparado em praticamente nada, tudo passa por mim e quando paro pra pensar sobre o que fiz, já me pego em outra situação completamente diferente. Têm sido assim o ano todo, não consigo me dedicar por inteiro a algo que não seja interrompido por outro fator de menor importância. Primeiro aconteceu com as mulheres, e eu bebendo feito um covarde, olhando apenas pro meu próprio sapato. Elas se foram, aos montes. Com a mesma velocidade da qual vieram. Paralelo à elas pintava um estágio muito bom, uma excelente oportunidade profissional que não bateria à porta tão cedo. Eu teria que deixar de lado toda a parte "artística" que tinha me dedicado nos dois últimos anos, com desenhos, imagens e sons que me deixavam tão à vontade ao ponto de ir trabalhar de jeans e camiseta, pra entrar no famigerado mundo dos "negócios" que eu nunca tinha feito parte até então. Mas costumam dizer que o ser humano se adapta às situações e ambientes, e não ao contrário. Meti as caras. Da barba sempre por fazer e do jeans e camiseta tive que pular pro paletó-gravata-e cara limpa, o que não foi fácil de aceitar logo de início. Em consequência chegava o fim da faculdade, e eu ainda mantinha os olhos semi-abertos. Quatro anos que voaram como uma flecha, que só percebi a rapidez depois de passado. E aí meu estágio chegava ao fim, eles iriam me contratar e dar uma carteira azul de "trabalho", como se eu estivesse entrando nessa apenas esse dia, e que os outros três anos de estágio de nada tinham valido, a não ser pra tirar uns trocos suficente o bastante pra me manter vivo fora de casa.

Não foi como eu imaginei. As etapas não tiveram suas pausas pra eu sentar e pensar "puxa, como será que vai ser agora?", elas vieram umas seguidas das outras e o que eu não consegui assimilar, simplesmente ficou perdido em algum lugar do tempo. Trabalho, faculdade, casa, pessoas que vêm e vão a todo instante, valores perdidos... mudanças que aconteceram dentro de um espaço de tempo tão minúsculo quanto minhas atuais ambições. Entrou um dinheiro que eu não imaginava ganhar tão cedo, e de repente eu podia comprar tudo o que eu tinha vontade. Mas a questão é: o que eu tenho vontade de ter? Talvez apenas as coisas que não se possa comprar com dinheiro, talvez coisas que na verdade não estejam sequer à venda e que devem ser conquistadas de outra maneira.

De nada me vale saber agora o que eu quero ser profissionalmente daqui a alguns anos, coisa que também não sei dizer ao certo. Menos ainda o que eu pretendo como pessoa. Eu não sei se em cinco anos ou dez meus filhos já estarão infestando a casa que ainda não tenho. Eu não sei se a mãe deles vai ser a mulher da minha vida ou então alguma burrada que fiz por causa de uma bebedeira qualquer. Se hoje, vinte e poucos anos depois de ter nascido ainda não descobri qual o tipo de mulher me serve, o que será de mim aos quarenta? Um homem sozinho e cheio de bens materias?

Mas no final de cada ano as coisas mudam pra mim, especialmente no que se diz respeito às mulheres. Eu abro mão de todas minhas decisões relacionadas a elas, não sei se é melhor estar com uma menina de dezoito ou com uma mulher de trinta. As de dezoito costumam encher o saco com as conversas sobre vestibular e "a amiga que está ficando com fulano", ou então com o maldito horário de voltar pra casa, aquela coisa de portão da casa no domingo e tal. As de trinta valem a pena em outros quesitos, já não se preocupam tanto com compromissos e ciumeiras, perdem um pouco do pudor na hora de se relacionar. E o pior, têm um maldito perfume de experiência que te deixa embasbacado pelo resto da noite, fazem tudo com uma pitada de malandragem e felizmente não me vêem como apenas um menino, o que pras de dezoito me transformam no "cara mais velho que eu estou saindo".

Eu não queria que minha vida se transformasse nisso de novo. Já não bastaram os dois últimos anos? Cada vez mais eu chego à conclusão que sou um grande criador de dor de cabeça, um caçador de problemas sem solução e um parafuso espanado que teima em parafusar. Só quero um Natal mais calmo, um fim de ano onde eu não tenha que pensar em ligar pra elas e dizer "Feliz Natal" com a cara de pau de quem faz isso com tamanha maestria e canalhice.

9.12.06

Tudo por um suéter velho e imundo

Um dia, há pouco mais de quatro anos atrás eu pensei em uma coisa que iria me satisfazer quando eu saísse de casa: ter um quarto pequeno só meu, com uma cama simples e do lado dela uma mesinha com gaveta. Além disso, ficar sozinho pensando besteiras e tentando aguçar minha imaginação tomando cerveja e fumando cigarros, tudo pra tentar escrever grandes coisas. Não grandes coisas de tamanho, mas coisas célebres que eu pudesse olhar e dizer "puta merda, de quem é isso?". Eu não queria mais nada da vida, porque se eu tivesse tudo isso e estivesse rendendo o que esperava, estaria satisfeito. Mas alguns valores acabam mudando, e a cerveja, o cigarro e o ato de escrever, não.

Seria um exagero ter uma máquina de escrever, não sou um romântico quanto aos textos e também não acho que isso influencie na hora de escrever, porque as melhores sacadas vêm quando você está completamente desligado ou longe de algo que sirva pra descarregar. Ou você está fodido no meio do trânsito, com o ônibus lotado e longe de casa, ou bêbado em alguma espelunca, e o máximo que você consegue fazer é anotar uns rabiscos rápidos ou então falar sobre os textos, como forma de se livrar do fardo que sustenta nas costas. E daí na manhã seguinte tudo vai embora com a maldita ressaca, que você não lembra na hora do banho gelado.

Agora eu tenho uma cama grande, a mesinha que substituiu a antiga cadeira de bar e um computador pra escrever. Consigo cerveja fácil, e cigarro idem. Mas as histórias pararam de acontecer, e são justamente elas que me embalam, que me fazem querer ir embora da espelunca no meio da noite pra encontrar uma porcaria de caneta e papel que seja.

Mais do que isso, agora eu estou sozinho, o que torna tudo mais fácil. Não posso mentir e dizer que estar sozinho é bom o tempo todo, porque chega uma hora que se cansa de falar sozinho ou ficar deitado na cama rabiscando coisas sem sentido, mas sozinho à noite, com as páginas descorridas pedindo pra serem completadas, tudo se torna diferente. E é aí que entram a cerveja e o cigarro, parceiros indispensáveis nesse quesito. As fotos, as músicas, os poemas perdidos entre as folhas cheia de números com contas de gastos, também ajudam. Te deixam selvagem, fazem com que você encare tudo de frente, como deve ser feito. Se tiver uma mulher pra pensar fica melhor ainda, mas não é o que dá pra dizer agora, depois que tudo o que deixei passar esse ano. Talvez eu poderia ter sido melhor com elas, mas é como aquela história do gato escaldado, que teme a água fria. Se você não pode entendê-las ou tê-las, reverta a situação. Afinal, elas vêm e vão a todo o instante, como as estações. Eu sei que peguei pesado, fui duro demais no momento que esperavam de mim alguém mais doce e compreensível, mas é o que a vida te faz: mais forte. Eu não voltaria atrás nenhuma das situações, como também não sou hipócrita em dizer que não me arrependo de nada. Dediquei-me muito pouco aos prazeres da vida, abri mão de muita coisa por causa das dores de cabeça da escola e do trabalho. Eu quero escrever, continuar escrevendo até o fim dos dias, mas não levando uma vida artifical de "fodido de boutique", corri atrás pra me garantir, e continuo correndo. Se hoje almejo dizer "missão cumprida" (e comprida), levanto as mãos pro céu e agradeço, porque não foi nada parecido com sorte ou algo que caiu no colo. Fiquei devendo pros meus amigos muita coisa, muita bebedeira e farra. Cheguei até a ser rude com alguns deles, resultado do meu temperamento agressivo nos momentos cruciais, mas é o que tinha de ser feito. Eu só queria fazer do melhor jeito, sem rabos e sobras futuras, pra não me arrepender depois. Se eu vou virar um "burocrata careca" em alguns anos, isso é algo que não posso dizer. Careca eu garanto que não... mas que vou continuar fazendo tudo o que minha cachola manda pras mãos, isso sim. Mesmo que vestindo paletó e gravata e sentado em uma cadeira confortável, dentro de uma sala com ar condicionado.

the raise and fall of a glorious and lonely man

starting a new life without a woman isn't
an easy thing to get done
you need to prepare the rules
your own rules
and they have to respect it
rather you are right or not

if you want to be alone for a while
you need to find something better than a woman
drinking beer may be a quite solution
writing poems
hanging out just smoking and thinking shits
spelling post card expressions
or make a mistake with a nice lady

you'll put them away for a long time
specially the best kind of them
the kind you would need forever

but whem you're tired of being alone
you have to spend some time
trying to have them back

the first step is taking a shower
a long and cold shower
to leave a bunch of dirty things behind
your thoughts
your fears
and your unconscious desires

now you're ready to face them
in the eyes
start all over again

but don't ever forget the alcohol
the poems and the cigarettes
you'll need them as soon as you expect