Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

23.2.06

Efeito placebo

Por um momento pensei em tirar tudo do eixo e fazer as coisas como de costume. Ser previsível e ao mesmo tempo surpreender. Mostrar pros outros que ainda estou longe da covardia, que faço sempre o que esperam de mim por mais tolo que seja o feito. Voltar a ser carne de pescoço, ser sujão, ter meus momentos ruins sempre consertados por banalidades fantasiosas que me iludem ainda mais, com coisas que eu jamais serei capaz de concretizar e fazer com que se assemelhem à minha imagem.

Mas senti uma fraqueza, tremenda. Aquela fraqueza que só quem pensa que é durão pode ter, mas na verdade não é durão porcaria nenhuma. É um fraco como muitos, um fraco não-declarado que às vezes abre a guarda pra receber um merecido tiro pensando ser um mártir. Um fraco com vontade de fazer muita coisa que não lhe cabe, mas que não consegue perder a vontade. Um fraco que se esconde atrás de algumas outras fraquezas, que o impedem de dar um pulinho e tocar com os calcanhares ou então pular pra fora da janela, e na chuva, sem camisa, pedir pra noite não acabar tão cedo.

Não, eu não vou fazer isso, porque agora eu não consigo pegar o telefone e tentar saber se vai, se já foi ou mesmo dizer boa viagem.

10.2.06

O dia em que fui pra Frisco

Eu carregava uma mochila pesada sobre os ombros, mas não fazia a menor idéia do que havia dentro. Usava um casaco espesso, marrom, talvez fizesse frio naquela hora. Ah, eu também cobria a cabeça e as orelhas com um gorro de lã forrado, daqueles parecidos com os gorros de couro que os aviadores usavam na guerra. Ficava alternando o olhar entre uns prédios grandes que tinha do outro lado da calçada e um mapa dobrado, cheio de anotações, que se lembro bem comprei num café da rua de trás. Era estranho, haviam alguns raios de sol e mesmo assim eu estava todo coberto, dos pés à cabeça. Esse movimento alternado ficava se repetindo várias vezes, e parecia que eu não tinha poder para controlá-lo. Também já não sentia minha perna direita, que formigava até a base do quadril e cada vez mais o formigamento ia aumentando. Eu estava imóvel. É, eu estava preso ao chão. Finalmente tinha conseguido dar um pulinho breve até aquela cidade e tudo o que eu conseguia fazer era olhar primeiro os prédios e depois o mapa. Os prédios e o mapa, os prédios e o mapa...

Que cansativo era aquilo! Não dava pra me tirar da função "figurante", não?
Era assim que eu me sentia: um figurante.

Havia um conversível vermelho parado à minha frente, sem ninguém dentro e com a chave no contato. Tentador para um jovem como eu, que nunca sequer roubou chocolate no mercado. E olha só onde eu estava me metendo agora, roubando carros em Frisco, com a maior naturalidade. Desvencilhei-me daquela estupidez estática que eu tinha virado, e saí a toda pela rua contrária aos prédios, perdendo o gorro no primeiro sinal fechado que cruzei. Acenava pra todas menininhas da calçada, e buzinava como se fosse o legítimo dono do possante, um barato...

8.2.06

A maior expressão da angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente
Indefinível


Nessa noite eu não dormi, passei em claro. Não dava pra colocar a cabeça no travesseiro, virar pro lado e fingir que tudo é normal, e que não me assusta. Por um lado me vi buscando as coisas ruins que fiz antes, porque talvez essas sim tiveram importância e me animariam, se eu as comparassem com as atuais. Mas por outro, pensei em tentar escapar do que ficou pra trás, encarando o novo (e quanta coisa nova...) como se fosse apenas mais um dia qualquer. O problema é que não é mais um dia qualquer.


Começo a entender a minha sede por instabilidade, a minha fácil aceitação à mudança e o desprezo pelas coisas que duram muito tempo. Na minha infância eu passei por diversas escolas, e sempre que mudava pra uma, queria ir pra outra. Tudo bem que algumas vezes não tinha como me adaptar àquele bando de babões ou então tinha problemas de relacionamento com professores e raros casos de indisciplina (na última a professora de português me pegou exalando álcool numa aula de segunda de manhã, e só não acreditaram nela porque ela batia fora do bumbo). E também quando eu jogava basquete, que mudava o número da camisa todo ano. Até mesmo meus trajetos acabo mudando depois de um tempo. Troco de calçada, de quarteirão, de ônibus, de supermercado... só de bar que não.
Aí fiquei lá tentando entender essas coisas, até muitas horas da madrugada, fumando feito um viciado que sou, com os olhos completamente arregalados, enxergando perfeitamente a escuridão daquele "imenso" quarto, fitando minha geladeira e suas coisas que brilhavam, desesperado para que a porcaria da dor de estômago passasse logo e eu finalmente pudesse dormir. Mas eu sabia que não era uma simples dorzinha de estômago que tirava meu sono, era uma dor maior. Era uma dor de consciência, por não saber ainda quanto tempo vou conseguir levar essa vida "sem parâmetros" e com o piloto automático funcionando 24 horas, brincando com as coisas que não me pertencem, decepcionado com a boca grande de alguns e encarando com frieza situações que em outros tempos me borrariam as calças.

Parece mesmo que quando a gente entra numa corrente de vento favorável, a tendência é que o resto das coisas sigam o fluxo, só que mesmo assim consigo não deixar de lado o fato de que algumas frustrações podem derrubar esse castelo de cartas com um simples sopro.


Mas não tente se matar
Pelo menos essa noite não




3.2.06

Tudo o que pedi fervorosamente no ano passado parece ter se concentrado num só pacote, que de repente caiu no meu colo. Vou ser sincero, as moedinhas acabaram já faz um bom tempo, mas os resultados de todo esse "empenho" (empenho não seria a palavra certa...) ainda continuam me surpreendendo a cada dia desse novo ano. Talvez tudo volte ao normal (pra pior) mais pra frente, já que a maioria das coisas boas aconteceram (e continuam acontecendo) num espaço de tempo muito pequeno. E o mais curioso, é que dessa vez não estou tentando fazer com que as coisas pareçam coincidências, porque elas realmente são. Não dá pra falar mais nada... ou então eu perderia o dia todo tentando explicar o "mistério das cousas".