Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

14.1.14

O ano da formiga

Tenho dito já há algum tempo que este ano deveria ser o ano da formiga, e não o da cigarra. "Deveria", assim no futuro do pretérito mesmo. Em algum ponto dos trilhos eu decidi virar a alavanca e mudar o trajeto, lá atrás, coisa de uns quinze meses. Pode ser que essa tenha sido a decisão mais inconsequentemente correta que eu já tomei na vida, e sem querer usar "linguagem de menina", eu liguei o foda-se de acordo.

Fui atrás dos meus suspiros. Torrei a porra do dinheiro que eu ganho como quem abre a torneira pra escovar os dentes e vai pro sofá terminar de ver o jogo. Viajei pra onde tive vontade de viajar (e enriqueci muito aí) e comprei coisas intangíveis - sensações que as notas do dinheiro não pagam. 

Descobri com quase trinta anos muitas coisas que outros descobriram com vinte e poucos. Talvez o meu caminho tenha se invertido lá no começo, quando precocemente tive que fazer o contrário. Digo que foi o ano da cigarra, mas durou pouco mais do que doze meses. Conheci um monte de mulheres depois que fiquei solteiro - talvez não me orgulhe disso, mas tentei encontrar nelas algumas coisas que não tinha encontrado até então. E nem por isso as maltratei. 

Como no começo dos meus vinte anos, meu coração endureceu de novo ("harden your hearts!", lembra?), e posso afirmar com toda certeza que não foi por querer. Talvez eu já tenha dito muitas vezes que não quero e não pretendo "amolecer", mas é tudo da boca pra fora, porque tenho que manter a casca em dia.

Enfim, eu as conheci e elas tiveram um peso enorme pra que as coisas continuassem do mesmo jeito. Por culpa minha, e não delas. Agora cheguei ao ponto de tentar desligar o foda-se, colocar o trem de volta nos trilhos e rumar pra que o ano da formiga aconteça. Arregaçar as mangas e trabalhar um pouco não vão me fazer mal agora. Talvez estudar também não. Espero só que esses meus planos cabeçudos consigam superar o que ficou enraizado durante esses meses. E pago pra ver.

13.1.14

Went to see the gypsy...


Não, eu não gosto dela de verdade. Eu acho que não. Pode ser que ela esteja mais em meus pensamentos do que no coração - não tenho muita certeza do que é gostar de alguém com o coração já faz algum tempo. 

Ouvi esses dias que a superstição está presente em praticamente 100% das pessoas inseguras. Ok, não bato no peito pra dizer que sou o cara mais seguro da Terra, mas então quem é? Isso não quer dizer que todo cara inseguro seja supersticioso... mas voltando, há uns 5 anos atrás tive a oportunidade de conversar com uma cigana. Sei que estas coisas místicas são renegadas pela religião católica, assim como São Jorge, São Cosme e Damião, etc, que tiveram origem no catolicismo e em depois de um tempo foram excluídos. Mas também não sou dos mais católicos, enfim...

Essa tal cigana estava em uma festa de fim de ano da empresa, eu já tinha tomado uma meia dúzia e fui "empurrado" pra ir falar com ela pelas meninas que trabalhavam comigo na época - "você tem medo do que pode ouvir?" - daí eu fui. É, eu não sou muito de acreditar nessas coisas, mas como diz meu lado entusiasta, é só me convencer que eu passo pro seu lado. E a mensagem foi bem clara - "Cai fora, ela vai tentar estragar sua vida..." Daí ela deu alguns detalhes de como as coisas iriam acontecer nos próximos anos (e praticamente tudo aconteceu, de fato. Por isso estou tentando acreditar e não achar que ela era uma charlatona).

A grande merda é que eu forço até o talo pra provar o contrário. Esse sempre foi o meu forte - a teimosia. Mas no cerne da minha consciência eu tentei me afastar dela, fiz mais do que eu podia, devo dizer. Fui durão! Mas "vira e mexe" ela volta à carga, enche a minha cabeça de caraminholas e quer que eu esteja ali pra ela. E eu não estou, mesmo querendo estar.

Não sei se acredito nas minhas convicções ou na cigana. Ou talvez a cigana seja a minha própria convicção dizendo o que devo fazer.




8.1.14

Meu eu entusiasta


Talvez no fundo, bem lá no fundo mesmo, eu nunca tenha dado importância pra nada na vida. Eu não sei bem onde eu estava, mas lembro bem quando foi que perdi o prazer por tudo o que supostamente deveria me oferecer prazer. A mulher do sonho (Sara?), um show animal que deveria ser épico, um final de semana com as melhores pessoas do mundo, algum bom dinheiro, etc.? Sem modéstia, cheguei ao ponto que eu esperaria chegar em todos estes quesitos. E nada disso me satisfez por completo - digo completo mesmo, extremo auge do prazer.

É claro que tudo isso é indispensável - mulher, amigos, rock and roll e um pouco de grana, mas ainda não cheguei ao nirvana. As pessoas costumam se dividir entre otimistas e pessimistas (e muitas vezes sou enquadrado na segunda opção), mas acho que não sou nenhum, nem outro. Sou um entusiasta. Se você me provar que devo estar otimista, otimista estarei. O mesmo vale se me provar o contrário. Sem argumentos, não tem conversa.

Pode ser que durante os anos eu só tenha me polido demais. Aprendi muito bem a lidar com a derrota, e isso às vezes é ruim. Minhas expectativas são extremamente baixas pra grande parte das coisas que faço ou anseio. Acho até que eu sei lidar melhor com os fracassos do que com os sucessos - é isso, aí uma grande verdade, sou um ótimo perdedor e um péssimo ganhador.

Não quero esperar que o tempo chegue e me diga se fiz bem ao me moldar durante os anos. Talvez seja melhor estar nu e cru novamente, sem vícios e manias que foram se apossando de mim. Não sei por onde começar. Não sei se devo ou preciso começar. Não quero ter tempo de pensar nessas coisas!