Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

28.7.05

É de lei, é de praxe,
Toda vez que o sol nasce
Eu me encontro por lá,
Na soleira do Dadá, com Ataliba + Gil
Puxo logo o tabuleiro e não vejo o dia ganhar a noite.

Uma sorte, um azar, nem sempre se escolhe o par !
Eis naquela manhã de quinta,
Que eu não me contentei,
Quando passou pela calçada a sobrinha do Dadá.

"Que coisa linda de deitar, essa mulher maior que eu,
já penso em você assim, desde o dia em que nasceu..."

Descia o morro a bailar, e a malandragem delirava,
Aquela graça imensa, quem duvida, às vezes pensa:
"Nunca vi um bombom assim..."

Era mesmo uma escultura, um capricho, meu xodó...
Depois da sobrinha do Dadá,
Até esqueci do dominó...

"Que coisa linda de deitar, essa mulher maior que eu,
já penso em você assim, desde o dia em que nasceu..."

22.7.05

Do meu silêncio ecoa um grito
e da paciência, um desabafo.
Um mau traço de sujeira é meu único jeito de ser bonito !
Não consigo ser melhor...

Mas a penumbra me clareia a vista,
já que no seu breu,
Eu até que me viro bem...

21.7.05

É UMA PENA.
Eu não nasci para escrever, e tomo partido desta condição.
Eu não nasci para cantar, e fiz com que a rouquidão de minha voz se assustasse com tamanha teimosia.
Eu não nasci para chorar, devo admitir. Minhas lágrimas são secas o bastante pra provar isso...
Nasci para amar as pessoas que escolhi, mas ainda pequeno descobri que nasci sem coração.
Enfim, um dia morri pra me tornar eterno, e ser um astro sem luz e brilho. E quando cheguei ao ponto de escolher meu caminho, aluguei um coração, emprestei uma voz e roubei um pincel.

É UMA PENA.
Hoje não sou feliz com o que tenho, porque NADA disso me pertence. Então devolverei tudo isso aos donos, e serei feliz com estas ferramentas bem longe de mim.
Deprimentes sensações ilusórias que com o passar dos anos fizeram com que este pipoqueiro se tornasse o homem mais sensato, generoso e compreensível, dentro de um raio de 50 centímetros.

É UMA PENA.
Amanhã vou para o Norte, e a passos lerdos e tímidos, porque assim ninguém irá encontrar meu rastro e então me seguir. E espero que não sintam o cheiro podre que sai deste corpo em decomposição, que de maneira decadente tenta fugir do seu destino, praticamente já traçado.

19.7.05

O tom que nunca chegou a ser um tom

Foi logo assim que desci do trem, percebi que tinha esquecido algo.
Dei um passo pra trás, e lembrei.
Procurei não demonstrar, pois sabia que ia feder.
Estava queimando muito, porque era de borracha.

A cena era típica: "Deixa eu ver como é seu coração ?"
Fiquei sozinho, esperando ela voltar do banho... já a imaginando toda cheirosa, com o meu coração na mão, mas não.
Não apareceu nem ela, nem meu coração, e lentamente me deitei no chão daquela estação suja, achando que meio tom me bastava pra ser feliz.
E como será ? Quem vai me dizer, um dia, o por quê disso tudo ?
Não vou esperar o vento trazê-la de volta, só quero meu coração.
Como é ? Eu imploro, me conta...

13.7.05

Aqui trancafiado no meu mundo,
Eu sinto um frio que vêm do nada, e
Nem as paredes de grosso concreto impedem
Que o teor de minh'alma congele.

Mas pro frio intenso, que sinto,
Não há cobertor algum que esquente !
A não ser os braços daquela pequena,
Que enchem de calor o peito desse falso errante,
Nesse amor medroso que deixa bambas minhas pernas, e
Transforma o vento gelado, num abraço sofrido, sincero e chorado.

Faço de meus laços um forte nó, onde aperto e
Não largo seu pudor assim, sem dó.

Apesar de que tu podes fugir, camuflar, ou dar vexame,
Mas o silêncio do meu grito vai sempre ecoar sinfônico:
Te adoro, madame !

NOVOMONDO

Por ti eu joguei fora meus vícios,
Meu carro, e a roça.
Vendi a casa da praia,
Meu maior mimo ! Que fossa...

A caderneta da vendinha,
Eu quitei, e rasguei.
Botei pra fora a sogra,
Enfim: um rei !

Aquele chaveiro da sorte,
No cofre eu tranquei.
O canivete italiano, do nono,
Abri e depois fechei...

Meus Piazzola, os Gardel e a vitrola,
Juntei e rifei.
E agora tenho você pra mim.
Estou acordado ?
Não sei...

1.7.05

Ontem um cara virou pra mim e disse: "Sabe quando te dá vontade de jogar tudo pro alto ? Hoje tô me sentindo assim..."

Falei pra ele: "Desencana. Penso nisso quando acordo,
quando tô cagando,
no caminho pro trabalho;
Daí no trabalho, penso nisso umas 15 vezes. E quando chego em casa, penso de novo.
Aí quando tô cagando outra vez, acendo um cigarro e penso em jogar tudo pro alto.

Também penso quando ligo o som, enquanto tô comendo,
enquanto penso e enquanto fumo outro cigarro.

Aí abro uma cerveja e penso: 'Pronto. Demorei, mas joguei...'"