A maior expressão da angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente
Indefinível
Nessa noite eu não dormi, passei em claro. Não dava pra colocar a cabeça no travesseiro, virar pro lado e fingir que tudo é normal, e que não me assusta. Por um lado me vi buscando as coisas ruins que fiz antes, porque talvez essas sim tiveram importância e me animariam, se eu as comparassem com as atuais. Mas por outro, pensei em tentar escapar do que ficou pra trás, encarando o novo (e quanta coisa nova...) como se fosse apenas mais um dia qualquer. O problema é que não é mais um dia qualquer.
Começo a entender a minha sede por instabilidade, a minha fácil aceitação à mudança e o desprezo pelas coisas que duram muito tempo. Na minha infância eu passei por diversas escolas, e sempre que mudava pra uma, queria ir pra outra. Tudo bem que algumas vezes não tinha como me adaptar àquele bando de babões ou então tinha problemas de relacionamento com professores e raros casos de indisciplina (na última a professora de português me pegou exalando álcool numa aula de segunda de manhã, e só não acreditaram nela porque ela batia fora do bumbo). E também quando eu jogava basquete, que mudava o número da camisa todo ano. Até mesmo meus trajetos acabo mudando depois de um tempo. Troco de calçada, de quarteirão, de ônibus, de supermercado... só de bar que não.
Aí fiquei lá tentando entender essas coisas, até muitas horas da madrugada, fumando feito um viciado que sou, com os olhos completamente arregalados, enxergando perfeitamente a escuridão daquele "imenso" quarto, fitando minha geladeira e suas coisas que brilhavam, desesperado para que a porcaria da dor de estômago passasse logo e eu finalmente pudesse dormir. Mas eu sabia que não era uma simples dorzinha de estômago que tirava meu sono, era uma dor maior. Era uma dor de consciência, por não saber ainda quanto tempo vou conseguir levar essa vida "sem parâmetros" e com o piloto automático funcionando 24 horas, brincando com as coisas que não me pertencem, decepcionado com a boca grande de alguns e encarando com frieza situações que em outros tempos me borrariam as calças.
Parece mesmo que quando a gente entra numa corrente de vento favorável, a tendência é que o resto das coisas sigam o fluxo, só que mesmo assim consigo não deixar de lado o fato de que algumas frustrações podem derrubar esse castelo de cartas com um simples sopro.
Mas não tente se matar
Pelo menos essa noite não
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