O dia em que fui pra Frisco
Eu carregava uma mochila pesada sobre os ombros, mas não fazia a menor idéia do que havia dentro. Usava um casaco espesso, marrom, talvez fizesse frio naquela hora. Ah, eu também cobria a cabeça e as orelhas com um gorro de lã forrado, daqueles parecidos com os gorros de couro que os aviadores usavam na guerra. Ficava alternando o olhar entre uns prédios grandes que tinha do outro lado da calçada e um mapa dobrado, cheio de anotações, que se lembro bem comprei num café da rua de trás. Era estranho, haviam alguns raios de sol e mesmo assim eu estava todo coberto, dos pés à cabeça. Esse movimento alternado ficava se repetindo várias vezes, e parecia que eu não tinha poder para controlá-lo. Também já não sentia minha perna direita, que formigava até a base do quadril e cada vez mais o formigamento ia aumentando. Eu estava imóvel. É, eu estava preso ao chão. Finalmente tinha conseguido dar um pulinho breve até aquela cidade e tudo o que eu conseguia fazer era olhar primeiro os prédios e depois o mapa. Os prédios e o mapa, os prédios e o mapa...
Que cansativo era aquilo! Não dava pra me tirar da função "figurante", não?
Era assim que eu me sentia: um figurante.
Havia um conversível vermelho parado à minha frente, sem ninguém dentro e com a chave no contato. Tentador para um jovem como eu, que nunca sequer roubou chocolate no mercado. E olha só onde eu estava me metendo agora, roubando carros em Frisco, com a maior naturalidade. Desvencilhei-me daquela estupidez estática que eu tinha virado, e saí a toda pela rua contrária aos prédios, perdendo o gorro no primeiro sinal fechado que cruzei. Acenava pra todas menininhas da calçada, e buzinava como se fosse o legítimo dono do possante, um barato...
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