Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

9.12.06

Tudo por um suéter velho e imundo

Um dia, há pouco mais de quatro anos atrás eu pensei em uma coisa que iria me satisfazer quando eu saísse de casa: ter um quarto pequeno só meu, com uma cama simples e do lado dela uma mesinha com gaveta. Além disso, ficar sozinho pensando besteiras e tentando aguçar minha imaginação tomando cerveja e fumando cigarros, tudo pra tentar escrever grandes coisas. Não grandes coisas de tamanho, mas coisas célebres que eu pudesse olhar e dizer "puta merda, de quem é isso?". Eu não queria mais nada da vida, porque se eu tivesse tudo isso e estivesse rendendo o que esperava, estaria satisfeito. Mas alguns valores acabam mudando, e a cerveja, o cigarro e o ato de escrever, não.

Seria um exagero ter uma máquina de escrever, não sou um romântico quanto aos textos e também não acho que isso influencie na hora de escrever, porque as melhores sacadas vêm quando você está completamente desligado ou longe de algo que sirva pra descarregar. Ou você está fodido no meio do trânsito, com o ônibus lotado e longe de casa, ou bêbado em alguma espelunca, e o máximo que você consegue fazer é anotar uns rabiscos rápidos ou então falar sobre os textos, como forma de se livrar do fardo que sustenta nas costas. E daí na manhã seguinte tudo vai embora com a maldita ressaca, que você não lembra na hora do banho gelado.

Agora eu tenho uma cama grande, a mesinha que substituiu a antiga cadeira de bar e um computador pra escrever. Consigo cerveja fácil, e cigarro idem. Mas as histórias pararam de acontecer, e são justamente elas que me embalam, que me fazem querer ir embora da espelunca no meio da noite pra encontrar uma porcaria de caneta e papel que seja.

Mais do que isso, agora eu estou sozinho, o que torna tudo mais fácil. Não posso mentir e dizer que estar sozinho é bom o tempo todo, porque chega uma hora que se cansa de falar sozinho ou ficar deitado na cama rabiscando coisas sem sentido, mas sozinho à noite, com as páginas descorridas pedindo pra serem completadas, tudo se torna diferente. E é aí que entram a cerveja e o cigarro, parceiros indispensáveis nesse quesito. As fotos, as músicas, os poemas perdidos entre as folhas cheia de números com contas de gastos, também ajudam. Te deixam selvagem, fazem com que você encare tudo de frente, como deve ser feito. Se tiver uma mulher pra pensar fica melhor ainda, mas não é o que dá pra dizer agora, depois que tudo o que deixei passar esse ano. Talvez eu poderia ter sido melhor com elas, mas é como aquela história do gato escaldado, que teme a água fria. Se você não pode entendê-las ou tê-las, reverta a situação. Afinal, elas vêm e vão a todo o instante, como as estações. Eu sei que peguei pesado, fui duro demais no momento que esperavam de mim alguém mais doce e compreensível, mas é o que a vida te faz: mais forte. Eu não voltaria atrás nenhuma das situações, como também não sou hipócrita em dizer que não me arrependo de nada. Dediquei-me muito pouco aos prazeres da vida, abri mão de muita coisa por causa das dores de cabeça da escola e do trabalho. Eu quero escrever, continuar escrevendo até o fim dos dias, mas não levando uma vida artifical de "fodido de boutique", corri atrás pra me garantir, e continuo correndo. Se hoje almejo dizer "missão cumprida" (e comprida), levanto as mãos pro céu e agradeço, porque não foi nada parecido com sorte ou algo que caiu no colo. Fiquei devendo pros meus amigos muita coisa, muita bebedeira e farra. Cheguei até a ser rude com alguns deles, resultado do meu temperamento agressivo nos momentos cruciais, mas é o que tinha de ser feito. Eu só queria fazer do melhor jeito, sem rabos e sobras futuras, pra não me arrepender depois. Se eu vou virar um "burocrata careca" em alguns anos, isso é algo que não posso dizer. Careca eu garanto que não... mas que vou continuar fazendo tudo o que minha cachola manda pras mãos, isso sim. Mesmo que vestindo paletó e gravata e sentado em uma cadeira confortável, dentro de uma sala com ar condicionado.