Ontem foi sábado, e hoje já é quinta-feira. Os dias têm passado tão depressa e eu pouco presto atenção no que acontece ao meu redor. Na verdade eu não tenho reparado em praticamente nada, tudo passa por mim e quando paro pra pensar sobre o que fiz, já me pego em outra situação completamente diferente. Têm sido assim o ano todo, não consigo me dedicar por inteiro a algo que não seja interrompido por outro fator de menor importância. Primeiro aconteceu com as mulheres, e eu bebendo feito um covarde, olhando apenas pro meu próprio sapato. Elas se foram, aos montes. Com a mesma velocidade da qual vieram. Paralelo à elas pintava um estágio muito bom, uma excelente oportunidade profissional que não bateria à porta tão cedo. Eu teria que deixar de lado toda a parte "artística" que tinha me dedicado nos dois últimos anos, com desenhos, imagens e sons que me deixavam tão à vontade ao ponto de ir trabalhar de jeans e camiseta, pra entrar no famigerado mundo dos "negócios" que eu nunca tinha feito parte até então. Mas costumam dizer que o ser humano se adapta às situações e ambientes, e não ao contrário. Meti as caras. Da barba sempre por fazer e do jeans e camiseta tive que pular pro paletó-gravata-e cara limpa, o que não foi fácil de aceitar logo de início. Em consequência chegava o fim da faculdade, e eu ainda mantinha os olhos semi-abertos. Quatro anos que voaram como uma flecha, que só percebi a rapidez depois de passado. E aí meu estágio chegava ao fim, eles iriam me contratar e dar uma carteira azul de "trabalho", como se eu estivesse entrando nessa apenas esse dia, e que os outros três anos de estágio de nada tinham valido, a não ser pra tirar uns trocos suficente o bastante pra me manter vivo fora de casa.
Não foi como eu imaginei. As etapas não tiveram suas pausas pra eu sentar e pensar "puxa, como será que vai ser agora?", elas vieram umas seguidas das outras e o que eu não consegui assimilar, simplesmente ficou perdido em algum lugar do tempo. Trabalho, faculdade, casa, pessoas que vêm e vão a todo instante, valores perdidos... mudanças que aconteceram dentro de um espaço de tempo tão minúsculo quanto minhas atuais ambições. Entrou um dinheiro que eu não imaginava ganhar tão cedo, e de repente eu podia comprar tudo o que eu tinha vontade. Mas a questão é: o que eu tenho vontade de ter? Talvez apenas as coisas que não se possa comprar com dinheiro, talvez coisas que na verdade não estejam sequer à venda e que devem ser conquistadas de outra maneira.
De nada me vale saber agora o que eu quero ser profissionalmente daqui a alguns anos, coisa que também não sei dizer ao certo. Menos ainda o que eu pretendo como pessoa. Eu não sei se em cinco anos ou dez meus filhos já estarão infestando a casa que ainda não tenho. Eu não sei se a mãe deles vai ser a mulher da minha vida ou então alguma burrada que fiz por causa de uma bebedeira qualquer. Se hoje, vinte e poucos anos depois de ter nascido ainda não descobri qual o tipo de mulher me serve, o que será de mim aos quarenta? Um homem sozinho e cheio de bens materias?
Mas no final de cada ano as coisas mudam pra mim, especialmente no que se diz respeito às mulheres. Eu abro mão de todas minhas decisões relacionadas a elas, não sei se é melhor estar com uma menina de dezoito ou com uma mulher de trinta. As de dezoito costumam encher o saco com as conversas sobre vestibular e "a amiga que está ficando com fulano", ou então com o maldito horário de voltar pra casa, aquela coisa de portão da casa no domingo e tal. As de trinta valem a pena em outros quesitos, já não se preocupam tanto com compromissos e ciumeiras, perdem um pouco do pudor na hora de se relacionar. E o pior, têm um maldito perfume de experiência que te deixa embasbacado pelo resto da noite, fazem tudo com uma pitada de malandragem e felizmente não me vêem como apenas um menino, o que pras de dezoito me transformam no "cara mais velho que eu estou saindo".
Eu não queria que minha vida se transformasse nisso de novo. Já não bastaram os dois últimos anos? Cada vez mais eu chego à conclusão que sou um grande criador de dor de cabeça, um caçador de problemas sem solução e um parafuso espanado que teima em parafusar. Só quero um Natal mais calmo, um fim de ano onde eu não tenha que pensar em ligar pra elas e dizer "Feliz Natal" com a cara de pau de quem faz isso com tamanha maestria e canalhice.