"I surrender dear"
Vai ser difícil sair dessa, mais um bom trabalho pra todo meu jeito amargo e frio de ser em relação à uma brincadeira que dura quase três anos. Eu questiono as outras pessoas, finjo-me de cordeiro quando no fundo sou o lobo da história. Sei que sou um baita de um covarde perto dela, como nunca fui antes com as outras mulheres, e tudo o que eu consigo sentir por ela é uma vontade tremenda de dizer que morro de medo de a gente dar certo. Fico na retaguarda, agindo conforme as suas ações, um retranqueiro de qualidades ásperas que consegue deixá-la em dúvida quanto ao nosso caso que já deixou de ser brincadeira. Talvez não seja tão difícil resolver este problema, é só fazer como das outras vezes, ser sincero e dizer "por favor, fique longe de mim porque assim eu não consigo" e deixá-la novamente com os olhos cheios d'água, o que me parte o coração. Mas esta não é a minha vontade agora, eu sinto que quanto mais eu tento afastá-la, mais ela se aproxima de mim, pega na minha mão e fala coisas que eu não estou acostumado a ouvir. A gente arruma milhões de desculpas pra se ver, e a maior delas pode ser a própria escola, que a gente finge ir pra estudar, quando na verdade ela vira e diz "que foi só pra me ver", assim eu quebro as pernas e não tenho reação sequer pra beijá-la ou então dizer "que brincadeira mais sem graça essa nossa, de gostar um do outro e fingir que nada acontece. Quantos anos a gente tem? Quinze?" Isso têm me entalado a garganta, me deixa sentimental perto dela, faz com que a gente se abrace e não diga exatamente nada, expressando apenas o "puta-que-pariu, como eu vou sentir sua falta quando isso acabar". Eu espero pelo dia em que eu realmente me renda, que talvez seja quando as aulas acabarem, daqui a pouco mais de um mês. É bem mais fácil estar junto dela quando se tem vontade do que quando se tem a obrigação de comparecer às aulas e assinar a lista como se fosse o casalzinho que tenta esconder de todo mundo algo que está muito claro. Eu nunca estive à vontade com as outras meninas da sala, me esquivo em um canto e finjo ser inocente quando rolam as brincadeirinhas delas pra cima de mim, ela se come de ciúmes e talvez isso me deixe um pouco mais satisfeito e ao mesmo tempo puto, porque eu não dou nem bola pra elas, que podem até ser atraentes e interessantes, mas muito menos do que ela. Eu realmente me sinto como se estivesse na oitava série, e que devo tomar uma atitude tão logo antes que o ano acabe e a gente vire mais uma lenda besta daquelas "ah, mas e a sua namoradinha, afinal de contas vocês se assumiram ou não?" Grande merda, é assim que eu me sinto, um grande monte de merda fedorenta incapaz de dizer que pra ela eu não sou durão coisa nenhuma, que tudo é puro charme e desprezo, coisas completamente opostas ao meu verdadeiro sentimento.