Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

16.12.05

"A perna esquerda e suas histórias sujas de rockabilly"

Ainda não sei quanto tempo vai custar até eu aprender a me comportar em festas com bebida na faixa. Por mais que ela tenha seu lado social e eu fique pensando "não, dessa vez vou beber socialmente..." não consigo negar aquela coisa toda dando sopa e eu fingindo que sou normal. De começo eu até pareço meio deslocado, porque festa de empresa não dá pra entrar com os pés no peito logo de cara, então a galera fica "ei cara, porque você tá mucho assim?" sem saber o que está por vir no desenrolar da bagaça. Eles não conheciam minha perna esquerda, que assim como "O braço" de Dominic Molise, faz um estrago dos infernos. Principalmente quando botam na caixa o tal do rockabilly, e todos abrem a roda e ficam embasbacados. Puxa, pensando bem eu até que bebi bastante mesmo, pra chegar a tal ponto de a chefe-mor vir me tirar pra dançar e eu deixar a roda boquiaberta. Eu e minha perna esquerda.

O interessante de festa de empresa é que dá pra descobrir quem são realmente os bêbados daquela merda, que ficam andando engravatados o dia todo fazendo caras e bocas. Aí com duas ou três horas de festa você encontra o safado no banheiro, todo mijado e bêbado a ponto de não conseguir nem abrir a braguilha da calça. Aliás percebi que muitos banheiros não foram feitos pra bêbados, porque nunca tem um lugarzinho pra deixar o copo enquanto você joga o que não presta no vaso. Ou você segura na mão e faz todo um malabarismo, ou então coloca o copo na borda do próprio vaso, mas toma cuidado pra não errar o alvo.

E as mulheres? É até engraçado ver. Começam todas bem comportadas, bebericando suas batidinhas com 0,1% de álcool, dalí quinze minutos algum safado põe um funk pra rolar e aí sim você vê quem é quem. Rebolam até o chão, sem dó nem piedade! E os marmanjos caem matando em cima, como se fossem urubus em carniça. E dá-lhe urubu! Mas eu, que até então sou o cara "mucho" da festa, arrumo um pilar e fico encostado nele por horas, mandando cerveja pra dentro e estrategicamente posicionado no lugar em que o garçom passa e eu apenas pesco mais uma. Então observo as pequenas bailarem e com o rabo do olho perceberem minha sutil investida, e aí que elas me provocam mais. Mas o amador aqui não consegue esconder, e dá goladas majestrais na cerveja, morrendo de vontade de acender um cigarrinho e como o grande Hernán, "soltar a fumaça vitoriosamente pelas narinas", mas decidi que vou deixar de fumar. Algum dia. E já que não dá pra parar, então tento diminuir o máximo.

É logo logo que eles botam o tal rockabilly, e a perna esquerda começa a ter vida própria. O pé está colado ao chão, mas o joelho indo da esquerda para a direita, esquerda-direita, esquerda-direita. Comecei a ficar empolgado, mesmo ainda estando "mucho". A essa hora o pessoal da minha área já estava a mil, com o funk desgramado rolando solto. Então abrem a roda, e a chefe-mor desafia a perna esquerda. Ah, ela vai ver só. Me pegou na mão, como se puxasse pro "fight" e eu fui. Meio bêbado, meio sem jeito, mais bêbado do que sem jeito. E aí peguei-a pra rodar, quase um desastre, porque eu não largava o copo. E a perna esquerda em ação, o pessoal olhando como se fosse coisa de outro mundo. Mas enfim, a perna esquerda serviu pra alguma coisa. Aliás ela sempre serve pra alguma coisa.
Eu não iria embora sozinho. Não dessa vez...