Um Circo, um Palhaço, um Pipoqueiro, alguns amores, muitos porres. E uns textos complicados sem pé nem cabeça.

28.11.05

Enfim, o fim. Ou quase isso.

Uma vez quase soquei um cara da minha sala, porque ele dizia que a faculdade estava passando rápido demais. Que besteira. Pra mim estes três anos foram os mais longos de toda minha vida! E agora que já estou prestes a botar os dois pés no último ano, acho que esse tempo só tende a pausar mais ainda, como se alguém pegasse o controle remoto e apertasse o "slow".

Sábado foi o dia decisivo, apresentação do trabalho de conclusão, e eu numa ânsia desgraçada. Nervoso não, mas ansioso pra que aquilo acabasse logo. Até porque eu era o babaca que não falaria quase nada do trabalho, e que teve de imitar a Carmen Miranda e sair dali taxado de maluco. A cada saída pra ir no banheiro, era uma visita à padaria da esquina pra tomar um café e fumar um calmante. Sentava lá, acendia um cigarro, chamava um café, depois bala, lavar a mão e voltava. Isso três ou quatro vezes. Antes da apresentação.

Daí chegou a hora de ir embora. Ah!
Finalmente eu estava livre daquela merda, e nem mesmo a tentaçãozinha da minha sala (que me quebra as pernas toda vez que diz meu nome enfatizando a última vogal, "êêê") me faria ficar ali por mais algum tempo. Caí fora. Eu só tinha que comer alguma coisa, porque não mastigava nada desde o pão de queijo das oito da manhã. Mas eu não tinha opção. Ou eu ia pro bar da Augusta ou parava pra comer alguma coisa. Sem chance!

Há tempos eu não sentia aquela sensação de botar uma mesa na calçada e beber assistindo o desfile das bicho-grilos que subia e desciam rumo ao cinema, sem ao menos me notar. Mas com isso eu nunca me preocupei, porque sabia que tudo o que eu atraía eram os bêbados e andarilhos que vivem na rua, alguns tentando escrever e outros tentando cantar. Disso eu nunca reclamei, acho que a rua te apresenta figuras que não se conhece na escola, no trabalho ou no shopping. Pessoas com valores um pouco mais profundos e ricos, sem apêgo material.

E foi numa dessas que um carinha todo maltrapilho chegou na minha mesa e pediu pra mostrar um livro dele. "Blue Escarlate", um pocket ou até menor. Só de olhar o resuminho do livro, na contra-capa, já lancei pra ele "Você leu o Fante." E ele "Ééééé! Como sabe ?"
Muito bom o que ele escrevia, e quem sou eu pra julgar o fato de sua narrativa lembrar o Fante, ou mesmo o velho Buk, quando dizia que comia velhas por grana. "É cara, acabei de reler o Pergunte ao Pó ontem. É excelente." E eu "É, isso parece bom, bom mesmo."
Mas nem pude comprar um de seus exemplares. Ou bebia, ou comprava.

Daí voltei à bebida, e o cara acabou indo embora, de mesa em mesa tentando vender seu bom trabalho. Esse é o charme da Augusta, você não precisa procurar pelas pessoas, porque elas vêm até você. E foi noutra dessas que parou um senhor pedindo uma dose de cachaça com limão, e o garçom veio logo tocando o coitado, como se fosse um animal. "Traz uma cadeira pra ele!" gritei pro garçom. Ele olhou feio, mas trouxe. E trouxe a cachaça com limão também.

"Meu amigo, preciso de sua ajuda. Estou escrevendo um filme há três anos e não consigo terminá-lo. Me falta a frase final, aquela que dá sentido a tudo o que foi representado..." atirou ele pra cima de mim. Mas um filme ? Como eu iria terminar o filme do cara se não sabia ao menos sobre o que era ? Aí ele começou a falar sobre política, o Lula, e tudo esse rolo de esquerda e Zé Dirceu, Genoíno, blá blá blá !!!

Aí falei pra ele "É meu amigo, a pedra virou vidraça!"
E ele "O quê? o quê? Pode repetir isso por favor?"
"A pedra virou vidraça!"

E ele abriu a pasta, pegou um calhamaço de folhas (que supostamente era o filme), abriu na última página e escreveu o que eu disse. "Tó, assina aqui, me dá seu telefone, e-mail, porque preciso da sua autorização pra usar esta frase no filme. Você vai receber uma bolada por isso, meu chapa."

O resto é história de bar...