É COMO ANDAR DE BICICLETA
Aquele foi apenas mais um dia ruim, um domingo qualquer, desses que eu devia sentar e esperar a depressão bater. Era uma cena normal pra mim, embora não tivesse mais tanto impacto quanto antigamente. Tinha virado uma sensação "crônica".
Pra variar, a noite anterior tinha sido fantástica, regada a muita bebida.
A deprê no domingo não veio. E eu comecei a sentir-me bem novamente.
Eu era um vencedor, de antemão. Sabia que iria vencer antes mesmo dela me pegar.
Aproveitei a proximidade de alguns poucos amigos, e junto deles busquei o fundo do poço. Bebi. Ou melhor, bebemos. E então mais uma vez, no dia seguinte, esperei a deprê chegar. Mas nada dela, apenas a ressaca desgramada que fica martelando na cabeça e nos forçando a pensar naquele jargão de dia seguinte: "Nunca mais vou beber..."
Ah, que nada, nem essa ressaca desgraçada me causou isso.
Trouxe coisa pior: o medo.
Daí eu me pergunto: medo de quê ?
Medo de tudo, medo do dia depois de amanhã.
Porque tudo o que a gente mata num copo de bebida é apenas o dia seguinte (no máximo) e nunca as projeções futuras que podem ter seu fluxo desviado por um descuido besta.
Não achei certo o jeito como eu trazia as coisas até mim. Não achei justo o jeito que eu me sentia feliz. Pior que isso, eu não me achei importante para os outros, e aí é um ponto que me incomoda. Eu não ter valores, não ter idéias, não ter argumentos convincentes além daquele sorrisinho irônico que destrói qualquer pessoa que me afronta.
Esse medo me tirou coisas muito mais profundas, coisas cravadas no meu coração e que praticamente forravam minhas idéias e atitudes. Tirou-me a literatura. A boa literatura. Isso pode parecer pretensão demais, ou um pouco de egoísmo. Ou mesmo mais um cara que fica caçando probleminhas e colocando no seu "blog". Mas não, foi muito além disso.
A vontade de escrever, que é a coisa que mais amo fazer e, tenho certeza, faz parte da minha essência como pessoa, estava indo embora com esse medo. Feliz em saber que por mais que tenha ventado, essa velha árvore cravou suas raízes profundas ao solo e suportou firme.
- Estou de volta mais uma vez.
Gracias por volver, Pichinguinha.
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