- Bom dia escritor ! - disse ela com um sorrisinho sarcástico no rosto.
Eu não lembrava que há algumas noites atrás tinha dito a ela o que eu fazia para "passar o tempo". Ela tinha me convidado para sair, e eu fiquei exitando entre estudar e beber, e acabei indo beber com ela. Talvez eu não devesse mais fazer esse tipo de coisa, aceitar convites para beber e depois ficar entregando peculiaridades sobre mim para os outros.
Eu estava tentando beber menos, mas continuava usando um suéter velho e sujo, com um furo de brasa na altura do umbigo e fumando cigarros baratos. Sem perceber, em alguns meses eu já estava completamente embriagado pela literatura norte-americana e não conseguia me livrar desse porre dos deuses. Vez ou outra eu vagava pela cidade fria, procurando pessoas e coisas interessantes o bastante para despertarem em mim algum sentimento capaz de me fazer escrever. Ao contrário do que minha mãe pensava, eu não tinha fome. Mas também não tinha dinheiro: eu havia gastado tudo em livros e coisas que eu achava importante.
Eu não procurava por uma mulher. Talvez eu até quisesse distância delas naquele momento. Talvez elas não pudessem me ajudar. Eu precisava de alguma coisa mais suja, de algo mais barato. E as mulheres eram muito puras e doces, não tinha como eu escrever sobre elas. A última mulher pela qual eu escrevi, não consegui esquecê-la desde então. Ela parecia ter sido a única mulher que gostou de mim também pelo o que eu tentava fazer: escrever. Por isso me borrei quando contei à outra do que eu era capaz. Eu não precisava desta exposição toda, não agora.
E quando acordei e olhei pro lado, pensando em consertar o que eu havia dito, nem sinal dela...
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