Aquela realmente não era uma noite qualquer.
Fui expulso da aula de Economia pelo professor alemão que encrespou comigo, achando que eu não parava de olhar para o lado. E de fato eu olhava muito para o lado, mas o porquê disso você fica sabendo depois. Pronto, ainda era umas 10 da noite e eu tinha combinado de encontrar os caras só depois das 11, no bar que o João abria naquele mesmo dia. Eu não tinha outra alternativa a não ser caminhar até lá e ficar tomando umas biritas na região enquanto os malandros não apareciam. Encostei na padoca da esquina, puxei uma cerveja e fui ver como estava a cara do bar, e ao chegar na porta dei de cara com o João fantasiado de "pedreiro profissional", como ele mesmo disse (embora eu o veja como um meia-colher) e a Tata já toda pronta para a inauguração, usando um vestidinho vermelho, no melhor estilo moranguinho.
Até que não era uma má idéia eu ter chegado antes, afinal acompanhei de perto os últimos retoques e apertos de parafuso para que a biboca finalmente pudesse abrir. Aos poucos ia chegando aquele pessoal que costuma frequentar essas casas alternativas de SP, vestidas quase que de maneira uniforme, e certa hora os caras chegaram.
Bebemos, dançamos, conhecemos gente, conhecemos gordas (pula...), conhecemos um figura que se entitulava Street, mas que alguns ousavam chamá-lo de "filho do cão" por causa de sua aparência, digamos, estranha. Enfim, enxarcamos. E no dia seguinte dormimos até umas 2 da tarde, só pra curar os males das branquinhas que foram servidas seguidamente na noite de sexta. Uhf !
E foi então que veio a parte boa.
Eu e o Loes abrimos uma cerveja, apenas para vir aquele soninho de sessão da tarde, e pensamos em dormir. Mas a cerveja nos fez lembrar da noite passada e minutos depois abrimos outra. E outra, e outra, outras... Era um cenário que eu nunca tinha visto antes. Um dia frio e chuvoso, sem muita luz lá fora e a cortina fechada ajudava a manter o ambiente com um ar p&b, sem muitas cores e brilhos. E mesmo depois do dia ter ido, mantivemos a luz apagada, e nos guiávamos pelas brasas do cigarro e pelo som de cada voz.
A sintonia que atingimos no desenrolar do papo era coisa inimaginável, e tudo o que era implícito foi saindo e criando vida, como uma planta. As relações amargas e difíceis, desamores, amores em vão, ou não, e tudo isso se resumia quanto à vontade imensurável da escrita simples e crua. Lembramos de poesias, e da paixão de Loes pelas poetisas e a serenidade que elas lhe trazem, confrontante com o meu desejo imundo de abrir um vinho vagabundo e bebê-lo no gargalo, feito o velho Buk. E falar das mulheres puras de forma deselegante, lembrando que elas também fazem das suas e que assim como as "da vida", merecem a honra do insulto.
Foi foda.
E passei o domingo agonizando as consequências do melhor vinho barato & vagabundo de todos os tempos.
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